a sequência dos outros dois? Um lugar serve de princípio para as consequências
tiradas pelos outros? Ou não há subordinação nem sequência e os lugares ou
partes se interpenetram? Via de regra, essa foi a concepção dominante, que se
exprime na ideia estoica de mistura. Ora, é exatamente esta que coloca um pro
blema no plano pedagógico, pois é impossível ensinar a mistura. Tradicional
mente, a ordem de ensino mais difundida começava pela lógica, passava pela fi
sica e chegava à ética. No entanto, Crisipo sempre defendeu começar pela lógica,
passar à ética e chegar à fisica. Ou seja, pedagogicamente, é preciso partir de um
dos lugares, mas ao fazê-lo, o mestre insensivelmente leva os discípulos a consi
derá-lo hierarquicamente superior aos outros. Mas também o contrário, isto é, o
que vem por último, porque conclui o percurso e lhe dá sentido, é tomado como
o mais importante e subordina os outros. Em suma, os lugares não se distinguem
apenas por seus objetos (cosmo, ciência, conduta humana), mas também pela
determinação de diferentes sentidos para a excelência e, portanto, de diferentes
maneiras de conceber a formação do homem excelente. Assim, podemos dizer
que a ideia mais original dos estoicos, o systema, foi também a origem de suas
dissensões teóricas e pedagógicas.
No entanto, como explica Victor Goldschmidt, seja qual for a opção de cada
um dos fundadores, a sabedoria, ainda que pedagogicamente seja adquirida aos
poucos e a partir de um dos diferentes lugares, encontra-se inteira em cada um dos
lugares e em todos eles, simultaneamente, pois a cada instante o todo está dado e
comanda a ordem sucessiva da aprendizagem ou da aquisição da sabedoria.
Seja como for, duas ideias foram comuns a todos os estoicos: a de que a ética
é a alma do sistema e a de que a lógica é uma parte ou um lugar da filosofia como
a fisica e a ética, opondo-se, portanto, a Aristóteles, que lhe recusara o estatuto de
saber ou de conhecimento de um objeto determinado e lhe dera a função de órga
non, * instrumento para a filosofia e a ciência, exterior a elas - como foi tópico
sobre a lógica aristotélica, no volume I. Para os estoicos, ela é a teoria do conheci
mento. Para eles,
As fo rmas, os elementos, as estruturas da linguagem e do raciocínio tornam-se eles
próprios objetos, tanto mais consistentes porquanto servem de articulação não so
mente para a razão humana, mas também para a razão divina, que não difere subs
tancialmente da humana, e que governa o universo (Brunschwig, 1997, p. 521).(^124)