Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

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postas, cujas regras são as da discussão e argumentação corretas, isto é, da dialéti­
ca. De acordo com Sexto Empírico, para os estoicos,

o discurso é de duas maneiras: raciocinativo e oratório. Vale dizer: ou dialética ou
retórica. Com o punho fe chado, Zenão costumava indicar o caráter conciso e cer­
rado da dialética; com a palma da mão aberta e os dedos esticados, a amplidão da
retórica.

Retórica e dialética não são denominadas artes e sim ciências, pois sua fun­
ção essencial é dar a aptidão para discernir a verdade sobre todo e qualquer objeto.
Visto que a investigação fisica e a ética se realizam por meio do discurso, a lógica
diz respeito a seus objetos.
Além da retórica e da dialética, que são as divisões principais da lógica, esta
comporta ainda uma divisão consagrada aos critérios e outra, às definições.

a) Teoria do conhecimento
Os estoicos são empiristas: a origem de nossos pensamentos encontra-se na
percepção sensível e não em ideias inatas ou em algum contato inefável com enti­
dades inteligíveis. Como observa Bréhier, a teoria do conhecimento consiste em
fazer o sensível retomar o domínio da certeza e do conhecimento. Verdade e cer­
teza são comuns nas percepções de todo e qualquer homem e não exigem quali­
dades especiais, ainda que o conhecimento certo pertença apenas ao sábio.
Esse empirismo, evidentemente, é inseparável da fisica ou cosmologia: o
mundo é um ser vivo estruturado por relações de tensão, concórdia e discórdia,
simpatia e antipatia entre todos os entes, e o homem vive nessas relações, de sorte
que o empirismo exprime a coexistência ou interpenetração do homem e do
mundo. Sentir e perceber é ter os sentidos e a alma modificados pelo que nos ro­
deia; essa modificação, quando em harmonia com o que a causa, indica que esta­
mos no verdadeiro e quando em desarmonia, no erro e na paixão. Exatamente
por esse peculiar empirismo, a lógica estoica, como veremos mais adiante, não se
volta, como a aristotélica, para as proposições atributivas (S é P; S não é P), mas
para os enunciados de acontecimentos (amanhece, anoitece, chove, escurece,
branqueia, verdeja), isto é, para as ações do mundo e dos homens. Também con­
trariamente à inferência de tipo aristotélico - "Sócrates é homem. Ora, todos os
homens são mortais. Logo, Sócrates é mortal" -, a inferência estoica é concebida


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