como relação temporal- "se do seio desta mulher escorre leite, é por que ela
pariu" -, pois o tempo exprime a vida do mundo ou de todos os seres. Por isso,
enquanto a lógica aristotélica opera com a inerência dos indivíduos na espécie e
das espécies num gênero, a estoica opera com a relação entre o antecedente e o
consequente para determinar qual relação é necessária (e, portanto, verdadeira) e
qual é acidental (e, portanto, falsa).
Ao nascermos, nossa alma é como uma tabula rasa, uma tábua na qual nada
está escrito, ou como um pequeno rolo de papiro totalmente em branco pronto
para receber a escrita, isto é, as impressões das coisas exteriores que nela gravam
a imagem (phantásía) ou representação. A phantásía é a manifestação das coisas
exteriores na alma ou a maneira como elas se dão à alma.3
Para Zenão, a phantásía é semelhante à impressão que o sinete imprime na
cera. Crisipo, porém, prefere o termo" alteração" em vez de "impressão", definin
do a imagem como uma alteração na alma, semelhante às alterações que o som e
a cor produzem no ar. A escolha de Crisipo decorre do fato de que nem toda
imagem é sensorial, como é o caso, por exemplo, das imagens suscitadas pelas
palavras. Além disso, ele argumenta que, sendo a alma um corpo, ela não poderia
receber simultaneamente muitas e diferentes impressões, nem poderia conservá
-las na memória, pois cada impressão apagaria a anterior.
Seja como fo r, uma coisa é certa para todo estoico, mesmo que nem toda
imagem seja sensorial: a origem primeira de toda imagem ou representação é uma
impressão feita na alma pelas coisas exteriores. A partir dessas primeiras impres
sões fo rmam-se na alma as primeiras noções e destas, graças a operações da alma,
formam-se as noções complexas ou as ideias e os pensamentos. A razão, dizia
Crisipo, é o agregado de prenoções provenientes das impressões sensíveis e for
mam as noções comuns (koinaí ennoiaí) ou opiniões naturais, que constituem o
senso comum de todos os homens, e de noções provenientes da linguagem, isto é,
do ensino e do estudo.
A imagem ou representação é também como um primeiro juízo sobre as
coisas - "isto é branco", "isto é duro". A impressão ou alteração não depende de
nós e sim da coisa externa e não temos liberdade para tê-la ou evitá-la. No entan
to, podemos tomar posição perante uma impressão ou representação: voluntaria
mente, a alma pode ou não dar sua adesão ou seu assentimento (sygkatáthesis) à
imagem. Se se engana ao assentir, cai no erro e / ou na mera opinião; se acerta,
tem a compreensão (katalépsis*) ou percepção do objeto correspondente à ima-
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