Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1

gem ou representação. Esse acerto significa que a alma não tem apenas a imagem
da coisa, mas a apreende imediatamente e com certeza, ou seja, a representação
verdadeira indica que a alma, além de sentir, também é capaz de assentir, capaci­
dade proveniente do lógos presente nela.
A correção do assentimento, que permite passar da afecção à percepção pro­
priamente dita, depende da fidelidade da imagem à coisa e por isso a imagem fiel
constitui o primeiro critério da verdade. É ela que Zenão denomina com a expres­
são representação apreensiva, phantdsía katakeptiké. O termo apreensiva não se refere
à imagem ou representação, pois esta é uma recepção apenas, é passiva e não age
para compreender, mas se refere à capacidade da imagem para provocar na alma
o assentimento correto e a percepção. Em outras palavras, ela permite a apreen­
são ou percepção verdadeira e a produz necessariamente, ou seja, a imagem é de
uma coisa real.
O que distingue a representação apreensiva de outra que não o seja? A res­
posta a essa questão precisa levar em conta a distinção entre imagem verdadeira e
falsa, assim como entre elas e as que não são verdadeiras nem falsas e, por fim, as
que são verdadeiras e falsas. As últimas são os fantasmas ou alucinações produzi­
dos pela própria alma, como no sonho, na embriaguez e na loucura, quando
imagens de coisas existentes são deformadas pela alma e produzem figuras ou
sons inexistentes. Não são verdadeiras nem falsas as representações genéricas,
pois não se referem a coisas particulares existentes, como a representação "ho­
mem", que não se refere a nenhum homem particular real. São falsas as imagens
provenientes de ilusões dos sentidos, por exemplo, ver de longe uma torre redon­
da como se fo sse quadrada ou ver como se estivesse quebrado um bastão mergu­
lhado na água. São verdadeiras as representações compreensivas.
Diógenes de Laércio escreve:


Existem dois tipos de representações: uma, compreensiva, que capta imediatamente
aquilo que é (phantásia kataleptiké), outra, não compreensiva, que capta aquilo que é
com pouca ou nenhuma distinção. A primeira, que eles definem como critério da
verdade, é determinada pelo existente, conforme o próprio existente e é impressa e
estampada na alma. A outra não é determinada pelo existente ou, se procede do
existente, não é determinada conforme o próprio existente: não é, pois, nem clara
nem distinta.

I28
Free download pdf