Por sua vez, Sexto Empírico afirma que, segundo Zenão, a representação
apreensiva éuma imagem impressa na alma, proveniente daquilo que existe, impressa e marcada
conformemente ao que existe, de tal modo que não poderia provir do que não existe.Essa definição da representação apreensiva mostra que ela: 1. provém daquilo
que existe e, portanto, não é uma alucinação; 2. é conforme ao objeto exterior, ou
seja, é "impressa e marcada" em conformidade com o objeto, reproduzindo exata
mente todas as suas características e, portanto, não é falsa; 3. não pode provir de
uma coisa que não existe, pois precisa ter um caráter próprio quando aparece, que
faz com que não se confunda com outras imagens nem com as impressões falsas. O
assentimento à representação apreensiva é não somente o critério da certeza, mas
também o principio fundador da ciência (episteme*). Por isso o sábio jamais tem
simples ou meras opiniões, pois só dá assentimento às representações apreensivas.
A representação apreensiva é comum ao sábio e ao ignorante. O conheci
mento do sábio simplesmente acrescenta à certeza inicial estabilidade e consistên
cia, ou seja, a razão torna a percepção inabalável e indestrutível porque faz com
que as percepções se confirmem umas às outras, se apoiem umas nas outras e
concordem entre si. A razão agrupa, organiza e reforça as certezas isoladas ofere
cidas momentaneamente pela sensação, dando-lhes uma conexão sistemática e
estável. Cícero assim se refere à teoria estoica da certeza: Zenãomostrava a mão aberta, os dedos estendidos e dizia: '�ssim é a representação"; de
pois, dobrando ligeiramente os dedos, dizia: "Eis o assentimento"; a seguir, fe chando
o punho direito, dizia: "Eis a apreensão"; finalmente, cobrindo com a mão esquerda
o punho direito, dizia: "Eis a ciência, que pertence apenas ao sábio". 4Essa analogia mostra, em primeiro lugar, que phantásia e katalépsis não são o
mesmo, isto é, a representação enquanto tal nada apreende - a mão aberta -,
pois é passiva, uma recepção da alma; em segundo, que o assentimento prepara a
compreensão - os dedos ligeiramente dobrados; em terceiro, que a compreen
são é uma apreensão - a mão fechada agarra ou apreende o objeto; e, em quarto,
que a ciência guarda com segurança e protege a compreensão - o punho direito
protegido pela mão esquerda.
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