A ciência é o ponto de partida da sabedoria, adesão consentida ao que acon
tece segundo o tempo da Natureza, pois, como já vimos, lógica e fisica são insepa
ráveis. O helenista Victor Golsdschmidt assim escreve:Há entre a representação e o assentimento uma harmonia necessária, natural, fá cil,
a mesma que se estabelece, no nível dos principia naturalia, entre a tendência a nos
conservarmos a nós mesmos e a Natureza que a isso nos convida. Essa harmonia
inicial é conservada mais tarde, garantindo precisamente que todo conflito que po
deria se erguer, em outros níveis, é puramente aparente e que, partindo do Mesmo,
chegamos ao Mesmo. Assim, será ainda conforme à Natureza a sabedoria, saída das
primeiras tendências e que somente em aparência as contradirá (Goldschmidt, 1953,
p. 114).A ciência é o que conduz o homem a dar sua adesão à estrutura de um mun
do que o contém, colocando-se em acordo com ela. A sabedoria, por isso, é viver,
pensar e agir em conformidade com a Natureza. A adesão e a conformidade à
Natureza são próprias do sábio ou do exercício consciente da parte dirigente da
alma, isto é, a razão. Assim, aderir à Natureza e viver em conformidade com ela
nada mais é que viver em conformidade com a razão, tanto a razão universal ou
lei natural- o fogo primordial, o deus, o Zeus cantado por Cleanto -como a
razão individual de cada ser humano, parcela da razão universal, centelha do fogo
universal.
A articulação sistêmica entre lógica e fisica, que se apresenta na teoria do co
nhecimento sob a forma do empirismo, afirma a sympátheia, a simpatia entre o ho
mem e a Natureza e por isso, como lemos em Diógenes de Laércio, os estoicos
concebem a sensação como "um sopro que vem da parte dirigente da alma [a razão]
e se espalha pelo corpo através dos sentidos". Donde, segundo Plutarco, proporem
a analogia entre a alma e o polvo: uma parte dirigente que comanda os tentáculos,
isto é, os cinco sentidos, a voz [a linguagem] e a parte reprodutora [sexualidade].
b) A retórica
Definida como arte do bem falar sobre argumentos bem expostos, a retórica
estoica, sobretudo quando comparada à dialética, é pouco inovadora quando
comparada à aristotélica, da qual conserva a divisão em três gêneros: o deliberati
vo ou político, o judiciário e o epiditico.
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