Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
sição enuncia sua modalidade enunciando "é necessário que ... ", "é possível
que ... ", "é impossível que ... ". Crisipo poderia, ao se opor a Aristóteles, seguir a
posição de Filo ou a de Diodoro Cronos (ambos filósofos megáricos que os estoi­
cos conheciam - veja-se no capítulo sobre Aristóteles, no volume I, a discussão
da posição de Diodoro ou do "argumento dominador"), para os quais a modali­
dade não é enunciada pela proposição, de maneira que uma proposição, como
por exemplo, "Dion anda", é uma proposição possível. Como se sabe, Diodoro
identificou o possível e o real, o presente e o futuro, de modo que o possível é o
que é ou será verdadeiro, o impossível o que não é nem nunca será verdadeiro.
No entanto, Crisipo seguirá Filo, que define o possível como "aquilo que, por sua
natureza própria, é susceptível de uma predicação verdadeira". Por seu turno,
Crisipo define o possível como "aquilo que é susceptível de ser verdadeiro se
nada exterior impedir que assim seja". Em resumo, uma proposição possível é
aquela que não tem contraditório e que pode ser verdadeira se as condições ex­
teriores não impedirem o acontecimento que ela enuncia. Ela é possível porque
não há certeza de que o acontecimento se realizará. Em contrapartida, a propo­
sição é necessária quando o que enuncia não pode deixar de ser ou de acontecer.
No caso do possível, há distinção entre possível e real; no caso do necessário,
nenhuma distinção entre ambos. Dessa maneira, as proposições possíveis são
susceptíveis do verdadeiro ou falso; as necessárias, somente do verdadeiro; as
impossíveis, somente do falso.


  1. raciocínio
    Um raciocínio é um conjunto composto de premissas das quais se tira uma
    conclusão. Como a lógica é uma dialética, as premissas são proposições admitidas
    de comum acordo pelos interlocutores. Embora os estoicos frequentemente em­
    preguem o termo" silogismo", seu sentido não é o mesmo que o aristotélico, pois
    não se trata nem da inclusão de um conceito em outro nem de uma relação entre
    conceitos, mas de uma implicação entre acontecimentos - "se é dia, está claro;
    ora, é dia; logo, está claro".
    Um raciocínio pode ser não conclusivo quando o contrário da conclusão não
    se opõe às premissas - "se é dia, está claro; ora, é dia; logo, Dion passeia". Em
    contrapartida, o raciocínio é conclusivo quando é formalmente válido porque as
    premissas constituem um antecedente de uma condicional válida, cuja conclusão
    é o consequente e por isso chega a uma conclusão específica - "é falso que seja


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