Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
dia e noite ao mesmo tempo; ora, é dia; logo, não é noite". Um raciocínio é de­
monstrativo quando chega a uma conclusão que não seria evidente sem as pre­
missas e estas são evidentes. Há assim, duas condições para que o raciocínio seja
demonstrativo e conclusivo: semanticamente, as proposições devem ser verdadei­
ras; epistemologicamente, a conclusão decorre de premissas evidentes.
Um raciocínio é dito demonstrável quando composto de vários raciocínios;
e é dito in demonstrável anapodítico quando não necessita demonstração porque
constituído por um raciocínio simples.
De acordo com Crisipo, há cinco tipos de raciocínios anapodíticos:
1) o raciocínio é constituído por uma condição e uma conclusão; começa-se
pela condição e a conclusão decorre imediatamente dela - "se é dia, está claro;
ora é dia; logo, está claro";
2) da condição e do contrário de sua conclusão tira-se uma conclusão oposta
à premissa maior - "se é dia, está claro; ora, é noite; logo, não é dia";
3) de premissas negativas e de um dos termos das premissas tira-se o contrá­
rio do termo restante - "não é verdade que Platão esteja vivo e morto; ora, Platão
está morto; logo Platão não está vivo";
4) de uma disjunção e de um dos termos de uma disjunção tira-se o contrário
do termo restante - "ou é dia ou é noite; ora, não é dia; logo, é noite";
5) de uma disjunção e do contrário de um dos termos da disjunção obtém-se
o termo restante - "ou é dia ou é noite; ora, não é dia; logo, é noite".
Estes cinco indemonstráveis podem compor-se para formar um raciocínio
que exigirá demonstração, pois esta consiste num procedimento de análise para
chegar aos indemonstráveis.


  1. significação -significante e significado ou exprimível
    Suponhamos, dizem os estoicos, que um grego e um estrangeiro se encon­
    trem e que o segundo desconheça a língua grega, não podendo compreender
    quando o primeiro diz kyon, cão. Embora ambos conheçam a coisa que o som
    designa - no caso, o animal-, não podem entender-se ou conversar. É preciso,
    portanto, que entre o som e a coisa se intercale um terceiro elemento que explica
    a incompreensão, mas favorece a compreensão: o significado. O estudo da lingua­
    gem distingue, assim, três componentes: o som, a coisa e o significado. Ou, como
    dizem os estoicos, o sistema da significação articula três elementos: o significante
    (som, phoné), o significado (o sentido, semeíon) e o portador exterior (a coisa re-


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