Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1

ferida pelos dois primeiros). Significante e significado são objeto da dialética e seu
estudo constitui uma teoria linguística e gramatical. Os historiadores da filosofia
salientam essa importante descoberta feita pelos estoicos, isto é, que a linguagem
não designa diretamente as coisas ou os estados de coisas, mas o faz por intermé­
dio de um conteúdo determinado, o significado.5
O significante é uma voz ou um som vocal (phoné). É corporal porque é o ar
sensível ao ouvido, propagando-se sob a forma de uma onda esférica. Segundo
Diógenes de Laércio, os estoicos se interessaram por todos os aspectos do som
vocal: definições e formas do som, as partes da frase, as virtudes e os vícios da ex­
pressão, a poesia e a música.
Conforme Diógenes de Laércio, os estoicos distinguiram cinco partes ou
elementos da frase:



  1. a apelação (prosegoría), que significa uma qualidade comum- ''homem'',
    "pedra", "cão"; são os nomes comuns;

  2. o nome, que designa uma qualidade particular -"Sócrates", "Calicles",
    "Zenão"; são os nomes próprios;

  3. o verbo, que significa um predicado incompleto e não composto - "escre­
    ve", "fala", "anda". É incompleto porque não diz de quem ou do que algo está
    sendo predicado (quem escreve? quem fala? quem ou o que anda?);

  4. a con junção, que coordena ou liga as partes da frase;

  5. a articulação: a) o artigo, que determina o gênero das palavras - o/a,
    um/ uma, algum/alguma etc. - e o número, isto é, singular ou plural; e b) o
    pronome.
    Os atributos (qualidades, quantidades, propriedades), os juízos, as ligações
    entre juízos, enfim, todos os elementos da lógica são exprimíveis.
    O significante é corporal, mas qual o modo de ser do significado? Este é
    denominado exprimível, lékton. Qual é o modo de ser do exprimível? Essa ques­
    tão é grave para os estoicos, visto que seu materialismo reconhece apenas a
    existência de corpos - as causas e os seres são corpos, ou melhor, os corpos são
    causas que produzem efeitos corporais e todo corpo é individual. Evidente­
    mente, os exprimíveis são reais, são algo, porém não são corpos nem causas,
    isto é, não afetam corpos nem causam efeitos que modifiquem a natureza das
    coisas que exprimem e podem ser universais ou gerais. Ou seja, faltam-lhe três
    características definidoras do ser: corporeidade, atividade causal e individuali­
    dade. Os estoicos afirmam que são incorpóreos, existindo apenas na linguagem e

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