Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1

  1. paradoxos
    O fato de os fundadores do estoicismo terem frequentado as lições dos
    socráticos menores, particularmente cínicos e megáricos, lhes deu argúcia e
    sutileza para enfrentar a questão dos paradoxos, que precisavam enfrentar
    porque punham em perigo sua tese lógica fundamental, qual seja, toda pro­
    posição ou é verdadeira ou falsa, uma proposição simples é indemonstrável
    (sua verdade ou falsidade são imediatamente percebidas) e uma proposição
    complexa é a ligação, segundo regras determinadas, de proposições simples
    indemonstráveis.
    No entanto, toda proposição tem uma contraditória, de maneira que, para
    um fato da realidade, pode haver pelo menos duas proposições que lhe correspon­
    dem, uma verdadeira e sua contraditória, que é falsa. Todavia, os estoicos susten­
    tam que a proposição verdadeira existe, mas a falsa, não. Disso resulta que certas
    proposições podem ser ora verdadeiras, ora falsas - "é dia" ora é verdadeira, ora
    falsa. Essa duplicidade se encontra na base dos paradoxos.
    Um dos mais célebres paradoxos examinados pelos estoicos é o do mentiro­
    so, que se apresenta da seguinte maneira:


"Eu minto" é verdadeiro ou falso?
Se fo r verdadeiro que minto, isso é falso, ou seja, o que digo é falso, pois minto.
Se fo r falso que minto, isso é verdadeiro, ou seja, o que digo é verdadeiro, pois é
verdade que estou mentindo.

Assim, uma proposição não é ou verdadeira ou falsa, mas pode ser verdadei­
ra e falsa ao mesmo tempo, eis o paradoxo.
A historiadora da lógica Claude Imbert considera que vários fr agmentos
dispersos na doxografia podem indicar a solução encontrada por Crisipo, que
pode ser assim formulada:


Eu minto.
Se tu mentes, tu mentes.
Se tu não mentes, tu mentes (dizendo que mentes)
Ora, tu mentes e tu não mentes (é esta tua pretensão)
Logo, tu mentes.
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