o tónos de cada um dos outros seres - para significar que tudo se relaciona e se
conecta com tudo, segundo uma ordem racional que é o próprio deus, corpo fluído
que se espalha pelo universo inteiro e do qual a razão humana é uma parcela. Por
isso, a compreensão do mundo pelo homem e a sintonia entre os corpos nada
mais são do que aspectos diferentes do percurso universal do fluído divino. Donde
a fisica estoica propor a ideia de mistura (krásis).
Escreve Jonathan Barnes:Para pensar tecnicamente a continuidade e a coesão internas de nosso mundo, ga
rantidas pela presença imanente do princípio ativo em toda parte e de suas expres
sões fisicas (o fogo, o sopro ígneo do pneuma) , os estoicos elaboraram uma fina aná
lise diferencial das formas de mistura, que evoca, sob muitos aspectos, a distinção
entre mistura fisica e combinação química. Sua rejeição do atomismo lhes permite
conceber não somente as misturas cujas propriedades são definitivamente irredutí
veis às de seus componentes, mas também misturas totalmente homogêneas, que
não podemos dividir sem reencontrar, em todas as etapas da divisão, a totalidade dos
constituintes com suas propriedades iniciais, mesmo que no início sejam de propor
ções desiguais: uma única gota de vinho se dissolve no mar, e cada gota do mar
contém vinho (Barnes, 1997, p. 545).Só há corpos. Já vimos, porém, que há pelo menos um incorporaI: o ex
primível, objeto da lógica. A fisica introduz três novos incorporais: o vazio, o
lugar e o tempo. Os incorporais, explica Bréhier, não são seres ou entes e por
isso não existem. Eles subsistem. São pensamento ou têm subsistência apenas
no pensamento.
Não há vazio no mundo, mas este se situa no vazio ilimitado, inativo, impas
sível. O mundo é pleno e contínuo e o vazio é apenas o que permite, no momento
de cada conflagração universal, que o mundo se dilate para além de sua dimensão.
O lugar, isto é, o espaço, é o intervalo preenchido por corpos que se sucedem ou
se interpenetram -é o que lhes permite se afastar e se aproximar uns dos outros.
O tempo, segundo Zenão, é "o intervalo do movimento" e, segundo Crisipo, "o
intervalo do movimento, no sentido em que às vezes é chamado de medida da
rapidez ou da lentidão; ou ainda: intervalo que acompanha o movimento do
mundo" , medido pelo movimento circular do mundo, da geração à conflagração,
movimento que, para Zeus, é um puro presente. É no tempo que todas as coisas
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