existem e se movem; nele se desenrolam os acontecimentos sem que ele os afete
ou os modifique, pois um incorpóreo não age sobre os corpos. Na realidade, são
os acontecimentos que fazem haver tempo. Como explica Victor Goldschmidt, o
tempo não é a sucessão do antes e do depois, e sim o agora de um ato ou de um
acontecimento. É puro presente.A simpatia universal
Só há corpos. Consequentemente, todo agente e todo paciente são corporais
e, portanto, toda causa é corporal. O sopro divino ou o fogo artista é inseparável
da matéria, fluído que a atravessa em todas as suas partes, como um corpo (o
deus) passando por outro (a matéria). Por isso os estoicos concebem a causalidade
como ação necessária de uma causa única, a causa eficiente ou "a causa que faz":
o pneuma divino age no interior de cada ser, pois os entes são parcelas do fogo ar
tista, e no interior do mundo, dando-lhe consistência, coesão, coerência e estabili
dade. Como declara Zenão, "é impossível que a causa esteja presente sem que
aquilo de que ela é causa se produza" e vice-versa, isto é, é impossível que algo se
produza sem que a causa esteja presente.
Assim como há um único agente, uma única luz do sol que se divide e se
propaga ilimitada e indefinidamente sobre todos os seres, da mesma forma há
um único paciente, uma única matéria comum disseminada numa infinidade de
corpos particulares. Por isso há uma única vida, compartilhada por infinitos cor
pos individuais. Diz Alexandre de Afrodisia que a substância total é uma só, "um
fluído que se estende por toda parte através dela e pelo qual ela é contida e per
manece uma". Tomando a causa universal como um fluído, ou seja, como um
líquido que se espalha pelo universo, penetrando todos os corpos, a fisica estoica
introduz a ideia de mistura (krásis), que lhe permite conceber o universo como
contínuo e pleno.
Dado que o universo é pleno e contínuo e que todos os corpos estão conec
tados, enlaçados e interpenetrados, a menor repercussão sobre o conjunto do
mundo se estenderá ao universo inteiro. O todo está em simpatia (sympátheia)
consigo mesmo e há por isso uma simpatia universal dos seres, isto é, correspon
dência entre os fenômenos e harmonia (homología) entre os acontecimentos. A
simpatia é a ordenação da matéria por um único agente e a coordenação de séries
causais numa única rede causal universal.
Visto que a filosofia estoica é um sistema, a teoria da simpatia universal tem