Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

ções comuns, há ainda argumentos que provam a existência do deus (ou dos

deuses), como o fato de a ordem do universo ser uma hierarquia de perfeições

na qual o homem ocupa um lugar superior, mas não o mais alto, pois somente

o deus (ou os deuses) realiza a perfeição plena ou suprema. Ou, então, o argu­

mento contra os atomistas, seja a ideia epicurista do clínamen, seja a tese de

Demócrito de que o mundo é movido por um turbilhão: tanto o clínamen

quanto o turbilhão são acontecimentos desordenados e de curta duração, inca­

pazes de produzir e conservar a ordem do mundo; esta exige um ser inteligen­

te que a faz, dirige e mantém.

Embora os estoicos afirmem deus no singular, em seu discurso aparecem

também o plural "deuses" e vários nomes divinos. Em outros termos, a divinda­

de, princípio de geração e coesão, embora seja una ou única, recebe diferentes

nomes, de acordo com os diferentes efeitos de sua ação. A este respeito escreve

Diógenes de Laércio:

Deus é um vivente imortal, racional, perfeito, inteligente, feliz, ignorando todo

mal, fazendo reinar sua providência sobre o mundo e sobre tudo que aí se encon­

tra. Não tem forma humana. É o arquiteto e pai de todas as coisas. À parte da di­

vindade que penetra toda coisa dão comumente diferentes nomes, segundo seus

diferentes efeitos. Eles o chamam Dia porque é aquilo pelo que tudo é feito (Dió­

genes de Laércio, VII, 147).7

Por sua vez, Plutarco escreve que deus é

Como um espírito (pneuma) que vai e penetra em toda parte no mundo, mudando

de nome e de apelação através de toda a matéria onde penetra pela passagem de um

a outro (Plutarco, As opiniões dos filósofo s, I, 7).

Eis porque, no "Hino a Zeus", Cleanto o saúda como aquele que tem muitos
nomes. Se o deus recebe diferentes nomes segundo os efeitos que produz, com
que nomes os estoicos se referem a ele?
Em primeiro lugar, mundo, cosmo. Em segundo, fogo artista, gerador do
mundo. Também é dito vivente razoável, perfeito e inteligente. É ainda chamado
de o mais puro dos corpos, pois é idêntico à matéria e uma de suas formas. É de­
signado fluído ou sopro (pneuma) que se espalha pelo universo inteiro. Espírito

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