Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
inteligente, Razão, Lógos autor do universo, ordenador das coisas. É o destino, a
providência ou a necessidade suprema.

A providência
O que leva o homem à ideia da providência? As noções comuns, formadas
desde muito cedo, diante do espetáculo da ordem e beleza do universo. Porque o
destino coordena e conecta com perfeição todos os seres, ele é uma sabedoria su­
perior à humana, é a providência, pronoia, que se exprime na harmonia ou paren­
tesco de todas as coisas, isto é, na simpatia universal e no desenrolar dos aconteci­
mentos que são a vida do mundo.
Essa sabedoria transparece nos fatos naturais, como, por exemplo, o instinto
de conservação dos animais, que, desde o nascimento e sem nenhuma experiên­
cia, os leva a buscar o útil e a fugir do nocivo, a ajudar-se mutuamente vivendo em
companhia (como as formigas e as abelhas, a alcateia dos lobos, o rebanho das
ovelhas, os cardumes de peixes) e pondo o interesse da comunidade acima do in­
dividual.
Os céticos, porém, não deixaram de levantar objeções a essa ideia da provi­
dência: a existência do mal ou dos males a contesta. Por que há animais e plantas
nocivos, tempestades, epidemias, guerras sangrentas? Por que a providência,
que visa ao bem, tolera o mal? Crisipo respondia com três argumentos: em pri­
meiro lugar, os contrários sempre estão juntos (a mentira acompanha a verda­
de, a in justiça vai ao lado da justiça, o mal, ao lado do bem); em segundo, o ho­
mem não é onisciente, de maneira que coisas que lhe parecem males são bens
aos olhos do deus; em terceiro, há males que são necessários para a aparição de
um grande bem. Assim, na perspectiva da providência não há propriamente o
mal, ou seja, não há mal na natureza. O verdadeiro mal, portanto, encontra-se
no homem insensato, que se insurge contra a lei divina natural e se recusa a vi­
ver em conformidade com a natureza: o mal é a desrazão, a desmedida ou lou­
cura humana.
A providência está inscrita na organização do mundo por intermédio da or­
dem e conexão das causas, que ligam os acontecimentos entre si. Por isso, ao co­
nhecer o encadeamento das causas, é possível encontrar no presente os signos dos
acontecimentos futuros. É a tarefa da adivinhação (divinatio*), leitura dos sinais
do que advirá. Não se trata de credulidade ou superstição, mas de apreender as
conexões necessárias engendradas pela simpatia universal, que faz com que haja

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