Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
dar tal conhecimento. Ora, não é verdade que os deuses não nos amam (são nossos
benfeitores e amigos), não ignoram as coisas que eles próprios decidiram, é falso que
o conhecimento das coisas que devem acontecer não nos interessa (seremos mais
prudentes se as conhecermos), não pensam que sua majestade lhes proíba de nos
dar a conhecer o porvir (nada é mais belo do que a beneficência), enfim, eles não
podem não conhecer o que deve acontecer. Não pode dar-se que os deuses não exis­
tam nem nos comuniquem o porvir. Ora, os deuses existem, logo, nos comunicam
o porvir. E se nos comunicam, não podem deixar de nos dar alguns meios para fun­
dar uma ciência para compreendê-lo (caso contrário, a comunicação teria sido inú­
til), e se nos dão esses meios, não pode deixar de haver uma ciência da adivinhação
(divinatio). Portanto, há uma ciência da adivinhação (divinatio). Eis o argumento de
Crisipo, Diógenes e Antipater (Cícero, De divinatione, I, 38).

A psicologia
Evidentemente, a psicologia faz parte da fisica, pois a alma não é um princí­
pio imaterial e sim corpo. É uma tensão (tónos) que mantém unidas todas as partes
de um corpo e os vários graus dessa tensão explicam a moleza ou a dureza dos
corpos. Todos os seres são viventes e, como tais, animados. Vegetais e animais são
superiores aos minerais porque possuem, além de uma estrutura e uma natureza,
o instinto e a sensibilidade ou capacidade de formar imagens das coisas (phantá­
sia). O ser humano supera os demais porque possui também uma alma inteligen­
te, parcela do sopro divino imerso em seu corpo.
O que sabemos da psicologia estoica nos vem de Alexandre de Afrodisia e
sobretudo do médico Galena.
A alma é um calor inato, um fogo, um sopro ígneo, um princípio informador
vindo da dupla semente do pai e da mãe. No embrião, é uma força organizadora
que modela o corpo nascente, mas é ainda algo vegetativo e não uma alma pro­
priamente dita, pois o feto, ligado à mãe pelo cordão umbilical, se parece com
uma planta cujas raízes trazem o alimento. Após o nascimento, a respiração traz
à alma o ar, estabelecendo a tensão entre o quente e o mo. Doravante, ela pode
receber as impressões, espalhadas pelo corpo por meio dos sentidos, e responder
a elas instintivamente ou por impulso. Aos sete anos de idade, torna-se capaz de
formar as noções comuns e aos catorze anos torna-se um novo princípio gerador,
capaz de engendrar um novo vivente.
Diversamente da tripartição platônica (alma concupiscente, localizada no


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