propaga no mundo exterior como um farol ou uma lanterna -o olho emite raios
luminosos com os quais toca as coisas para que possam ser vistas; o ouvido emite
um sopro sonoro que se propaga ao redor de nossa cabeça à maneira da propaga
ção das ondas que se formam na água quando nela se lança uma pedra, e torna
audíveis as coisas.
Nossa alma não tem apenas a função vegetativa e a motora, mas também a
gnosiológica, que permite ao homem viver com sabedoria, pondo-se de acordo
com o mundo. Como conhecimento, a alma realiza duas funções: a phantásia ou
representação, proveniente da imagem do objeto exterior e a hormé ou inclinação,
capacidade para experimentar desejo e aversão. Através da razão, a alma é capaz
de assentir ou de dar voluntariamente seu assentimento às representações verda
deiras e às inclinações conformes à natureza.
A vida após a morte parece não ter interessado aos estoicos. Zenão afirma
que a alma permanece depois da morte e se dissipa aos poucos até desaparecer;
Cleanto julga que ela se dissipa durante a conflagração universal; e Crisipo julga
que as almas dos maus se dissipam com a morte, porém as dos justos permane
cem, tomando a forma esférica como a dos astros e girando como eles em torno
da Terra, de cujas emanações elas se alimentam.Física e ética
O caráter sistemático do estoicismo torna inseparáveis a fisica e a ética; a
ideia do destino introduz o primeiro problema: pode haver liberdade num mundo
regido por uma causalidade necessária e no qual a sabedoria consiste em viver de
acordo com as leis necessárias da natureza? Se tudo é necessário, como o homem
poderia ser livre e responsável por seus atos? O estoicismo não seria um fatalismo?
As paixões, os desvarios e a loucura não fazem parte das leis necessárias do uni
verso? Como censurar e condenar o homem passional? Essas questões foram le
vantadas desde sempre e dois textos as examinaram com detalhe: o Do destino, de
Cícero, e o Tratado sobre o destino, de Alexandre de Afrodisia.
Os epicuristas manifestavam total desprezo pela ideia estoica do destino e
pela figura do sábio impassível no sofrimento, graças à aceitação dos aconteci
mentos, independentes dele. Os megáricos, os céticos e os membros da Nova
Academia também não pouparam críticas ao destino estoico.
Uma das críticas mais célebres inspira-se no argumento dominador, de Diodo
ro Cronos, que versa sobre os futuros contingentes, e de quem já falamos ao estu-
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