Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
dar Aristóteles. O argumento, como sabemos, se apresenta da seguinte maneira:
em virtude do princípio lógico do terceiro excluído, uma proposição é ou verda­
deira ou falsa, não havendo uma terceira alternativa; isso não se aplica apenas às
proposições que se referem ao passado e ao presente, mas também ao futuro, de
modo que as proposições "amanhã haverá uma batalha naval" e "amanhã não
haverá uma batalha naval" devem ser uma verdadeira e outra falsa. Não há inde­
terminação. Não há o possível. A necessidade lógica e a necessidade real são idên­
ticas em todos os tempos (passado, presente, futuro). Isso significa que se houver
batalha naval, sua negação é falsa e vice-versa, porém, justamente porque há a
batalha, a proposição sempre foi verdadeira e sua negação sempre falsa. O possí­
vel é verdadeiro e real, portanto, necessário; o impossível é falso e irreal, portanto,
sua irrealidade é necessária.
Ora, dizem os críticos, os estoicos pretendem conservar o destino e o possí­
vel, o que é absurdo. O texto de Cícero é célebre:

Se consideras verdadeiras as predições do adivinho, contarás entre as coisas que não
podem acontecer toda afirmação falsa concernente ao futuro e afirmarás necessário
tudo que se disser de verdadeiro do futuro e que acontecerá. Esta é precisamente a
opinião de Diodoro, contrária à tua. Com efeito, se nesta conjuntura é verdadeiro:
"se nasceste ao elevar-se a canícula, não morrerás no mar", e o primeiro termo dessa
relação, "nasceste no elevar-se da canícula" é necessário (pois tudo o que é verdadei­
ro no passado é necessário, como pensa Crisipo, pois o passado é imutável e não
pode ser mudado de verdadeiro em, falso), se, portanto, o primeiro termo dessa re­
lação é necessário, o mesmo deve ser do segundo termo, ainda que Crisipo não ad­
mita ser assim. Mas se há uma causa natural para que Fábio não morra no mar, Fábio
não pode morrer no mar (Cícero, Do destino, VII, 13).

Para afirmar que até o momento preciso em que um acontecimento se torna
passado, portanto necessário, outros acontecimentos eram possíveis, os estoicos
possuíam três argumentos dialéticos:
-para que uma proposição seja necessária é preciso que permaneça sempre
verdadeira. A proposição "haverá batalha naval amanhã" pode ser enunciada en­
quanto não for amanhã, e se o acontecimento não ocorrer, ela deixa de ser verda­
deira. Visto que ela não foi sempre verdadeira, segue-se que ela não é necessária;



  • o possível pode nunca acontecer, sem que por isso seja impossível;


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