Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1

  • nas proposições condicionais ou hipotéticas formuladas pelos adivinhos,
    o futuro aparece como consequência necessária do presente, mas essas proposi­
    ções podem ser enunciadas apenas como coordenadas, sem que delas siga uma
    consequência. Basta para isso que a condição seja enunciada de maneira negativa
    e não como um fato positivo que se torna necessário quando de sua ocorrência.
    Assim, em lugar de dizer: "se alguém nasceu no elevar-se da canícula, não morre­
    rá no mar", deve-se enunciar: "não há ninguém que, nascido no elevar-se da caní­
    cula, deve morrer no mar".
    Além do combate ao argumento dominador, os estoicos combateram tam­
    bém o que denominavam argumento preguiçoso, que atribuíam a alguns megáricos.
    Cícero assim o apresenta:


Se é teu destino sarar desta doença, quer faças ou não vir o médico, sararás. Do
mesmo modo, se é de teu destino não te curares dessa doença, mesmo que faças vir
o médico, não te curarás. E um dos dois é teu destino. Portanto, de nada serve fazer
vir o médico (Cícero, Do destino, VIII, 15).

Inúmeros exemplos do mesmo tipo podem ser dados. Crisipo combatia esse
argumento com a teoria dos syneimarména, que os latinos traduziram como con­
fa talia,
os confatais. Se uma coisa é fatal, outras também o são junto com ela e
lhe são confatais. Se é fatal que Édipo nasça de Laio, é igualmente fatal que Laio
tenha relação sexual com uma mulher, de maneira que é absurdo dizer que é fatal
que Édipo nasça de Laio quer este tenha tido ou não relação sexual com uma
mulher. Se é fatal que determinado atleta vença nos Jogos Olímpicos, é igualmen­
te fatal que ele tenha um adversário e ponha em ação toda sua perícia de lutador,
pois seria absurdo afirmar que ele vencerá quer lute, quer não lute. É seu destino
ganhar e não uma escolha, porém só ganhará se se puser de acordo com as cir­
cunstâncias da luta, lutando de maneira excelente. Ou seja, é porque possui a
virtude ou excelência do bom lutador que entrará na luta; e é por sua excelência
superior à do adversário que necessária ou fatalmente vencerá.
Os acadêmicos, como Carnéades, retomavam a questão ética que Aristóteles
havia formulado ao discutir o necessário, o contingente e o possível, isto é, a res­
posta à pergunta "o que está e o que não está em nosso poder?".lO Carnéades
questionava a causalidade necessária porque nada deixa em nosso poder. Se os
acontecimentos estão conectados por redes causais e se estão estreitamente pre-


(^154)

Free download pdf