sos uns aos outros, a necessidade produz todas as coisas e nada resta que esteja em
nosso poder. Ora, diz Carnéades, há coisas que estão em nosso poder e, por con
seguinte, é preciso admitir que há coisas que não acontecem pela força do destino.
O mesmo deve ser dito com respeito ao assentimento. Se este for determinado
pelo destino, isto é, se tiver causas antecedentes necessárias, dá-lo não está em
nosso poder. Ou seja, não há diferença entre a inclinação (hormé) ou impulso na
tural e o assentimento: se a causa da tendência está fora de nós, ela não está em
nosso poder; se a causa do assentimento está na causa antecedente exterior, ele
também não está em nosso poder. Mas assim sendo, o elogio, a censura, as honras
e os suplícios não são justos. Isto é escandaloso. Por esse motivo, conclui Carnéa
des, os estoicos foram levados a concluir que nem tudo o que acontece ocorre
segundo o destino.
No entanto, Crisipo havia de antemão respondido a essa dificuldade, distin
guindo entre inclinação / tendência e assentimento, graças a uma teoria da dupla
causalidade, que diferencia as causas perfeitas e principais e as causas auxiliares e
antecedentes.
As causas perfeitas ou principais são as causas imanentes que dependem de
nós; as causas auxiliares ou antecedentes são exteriores a nós, não dependem de
nós e sim do destino, são elas que constituem os confatais. Assim, por exemplo, a
chuva que cai hoje depende de uma cadeia de causas antecedentes que não estão
em nosso poder; todavia, se não podemos fazer com que algo aconteça ou não no
mundo, está em nosso poder decidir que comportamento teremos diante desse
acontecimento, pois isso depende de nós ou de nossa causalidade imanente. Cri
sipo se valia do exemplo do cone e do cilindro para explicar essa teoria da dupla
causalidade: um cilindro e um cone entram em movimento pela ação de um mes
mo impulso externo, que não depende deles; porém, é em decorrência da estru
tura própria de cada um deles que se moverão cada qual de uma maneira particu
lar -o cone gira e o cilindro rola. Da mesma maneira, depende da coisa externa
imprimir em nós sua imagem e não somos livres para recebê-la nem recusá-la,
porém, o assentimento a ela depende de nós apenas e está em nosso poder.
A dupla causalidade, além de evidenciar a liberdade humana, determina a
atitude do sábio, pois este distingue claramente o que está e o que não está em seu
poder. O homem passional acredita que a liberdade consiste em desejar que tudo
aconteça conforme o seu desejo -é um louco, um temerário. O sábio compreen
de que a liberdade verdadeira consiste em desejar que as coisas aconteçam não
(^155)