cam as coisas salutares e fogem das contrárias. Isso não aconteceria se elas não amas
sem o próprio estado e não temessem a destruição. E, por outro lado, não poderiam
desejar coisa alguma se não tivessem alguma consciência de si mesmas e, assim, se
amassem a si mesmas. Donde se deve concluir que o amor de si fo i o primeiro prin
cípio (Cícero, Dos fins, I1I, 5, 16).Da mesma maneira, lemos em Diógenes de Laércio:Sustentam que o animal tem como primeiro impulso a conservação de si mesmo,
dado pela natureza desde a origem, como diz Crisipo no primeiro livro Sobre o fim,
quando diz que para cada animal a primeira coisa própria é a sua natureza e a cons
ciência dela. De fato, não seria verossímil que um animal fosse inimigo de si mesmo,
nem que se tornasse inimigo e não se prendesse à natureza que o fez. Resta, pois,
que aquela que o fez o concilie consigo mesmo. Com efeito, ele assim evita as coisas
que prejudicam e busca as úteis (Diógenes de Laércio, VII, 85).Os seres vivos nascem, portanto, com a capacidade para distinguir o que é
conforme à sua natureza (ou natural) e o que lhe é contrário (ou contranatureza),
como vemos na atração que as crias e os bebês sentem, espontaneamente, pelo
alimento, e na reação imediata de aversão que manifestam por aquilo que os inco
moda ou contraria. Por esse motivo, pode-se dizer que viver conforme à sua natu
reza é o mesmo que viver conforme à natureza. A auto conservação e não o prazer
(como afirmam os epicuristas) é, portanto, a finalidade do impulso ou da tendên
cia; o prazer é resultado da obtenção daquilo que está em conformidade com a
constituição do animal e do vegetal.
A auto conservação é apropriação de si. A doutrina da apropriação de si en
contra-se na teoria estoica da oikeósis,l1 a afinidade que um animal experimenta
com relação a si mesmo. Crisipo teria dito que o que é próprio de cada animal é
sua própria constituição e o sentimento que ele tem dela; a natureza não separa o
animal de si mesmo e sim o faz apropriar-se de si mesmo ou do que lhe é próprio.
Assim, em decorrência da oikeósis, todas as coisas tendem a apropriar-se de seu
próprio ser e a amá-lo, conservá-lo e conciliá-lo com o que o favorece. A apropria
ção de si começa com a sensação e a percepção do que nos é próprio, do que é útil
ou nocivo para nosso corpo; é ela que se encontra em nossa tendência de auto
conservação como amor de si e faz com que este se estenda para além de nós
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