Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1

práticas aprovadas por nós em diversas situações, regras provenientes das inclina­
ções, da experiência e da educação, nós nos tornamos capazes de perceber a coe­
rência de nossos comportamentos e atitudes. A racionalização de nossas condutas
lhes dá constância, homogeneidade e estabilidade e se o processo de racionaliza­
ção se completa, ganham harmonia perfeita consigo mesmas e com os aconteci­
mentos. Quando a razão percebe a coesão e a ordem das coisas, interessa-se mais
por essa harmonia das ações do que pelas coisas buscadas pela tendência. Em ou­
tras palavras, concebe o bem verdadeiro.



  1. Os bens e os males
    A tendência à auto conservação é o princípio de avaliação dos bens e males:
    bem ou bom é o que favorece e aumenta nossa conservação; mal ou mau, o que
    prejudica, impede ou diminui nossa conservação. Bem é o útil (ophéleia); mal, o
    nocivo. As coisas são ditas boas quando intrinsecamente úteis, e más, quando in­
    trinsecamente nocivas. As boas são dignas de estima; as más merecem desestima.
    No caso dos humanos, cuja physis é a razão, acrescenta-se uma nova distinção:
    bem é o que é intrinsecamente conforme à razão; mal, o que lhe é contrário. Essa
    distinção permite diferenciar os bens e o sumo bem, que é viver tendo a ciência do
    que é conforme à natureza, ou seja, a virtude.
    Lemos em Diógenes de Laércio:


Das coisas que são, eles dizem que algumas são boas, outras más; outras ainda nem
boas nem más, indiferentes (adiáphora). Boas são as virtudes, prudência, justiça,
fo rtaleza, moderação etc., más são os vícios, estultice, injustiça etc.; indiferentes são
todas as coisas que não trazem nem beneficio nem dano [moral], por exemplo: vida,
saúde, prazer, beleza, força, riqueza, boa reputação, nobreza de estirpe, e os seus
contrários, morte, enfermidade, pena, fe aldade, fraqueza, pobreza, ignomínia, hu­
milde estirpe e semelhantes (Diógenes de Laércio, VII, 102).

Em Cícero, lemos:

Todas as outras coisas que estão no meio, entre o verdadeiro bem e o verdadeiro
mal, não são nem bens nem males; todavia, algumas são conformes à natureza,
outras não, e também aqui existem graus intermediários. As coisas conformes à
natureza devem ser tomadas em consideração, as contrárias à natureza devem ser

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