Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
rejeitadas e desprezadas; as intermédias são indiferentes (Cícero, Contra os acadê­
micos, I, 36).

o termo "indiferente", adiáphora, é tomado em três sentidos: são indiferen­
tes as coisas pelas quais não temos nem desejo nem aversão (por exemplo, que o
número das estrelas seja par ou ímpar); as coisas sobre as quais dizemos que "tan­
to faz isto ou aquilo" (por exemplo, quando, entre duas moedas de igual valor e de
mesma matéria, pegamos esta em vez daquela); finalmente, aquelas coisas exte­
riores que, por si mesmas e em si mesmas, não são nem úteis nem nocivas, mas
das quais um homem pode se servir para ser útil ou nocivo a si mesmo ou aos
outros.
Entre as coisas indiferentes e o sumo bem intercala-se ainda um terceiro tipo
de coisas que os estoicos designam como preferíveis (proegména). Trata-se de coisas
indiferentes em si mesmas ou indiferentes do ponto de vista moral, coisas que não
são intrinsecamente boas, mas que podem ser bem usadas para a autoconserva­
ção. Assim, a saúde é preferível à doença, a beleza à feiúra, a riqueza à pobreza, a
inteligência à estupidez, a nobreza à vulgaridade, e assim por diante.
O sumo bem (ágathon), diz Crisipo, é "o único que é belo" (kalou), digno de
estima e de elogio: é virtude, expressão da harmonia interior que se identifica
com a harmonia do mundo.



  1. A virtude
    A areté é a excelência, isto é, a perfeição ou completude de alguma coisa em
    conformidade com sua natureza e finalidade. É assim que podemos falar na lógica
    e na fisica como virtudes ou excelências da razão. E como a filosofia é um sistema,
    essas duas excelências devem estar conectadas necessariamente com a excelência
    ética. Nesse sentido, escreve Cícero:


A primeira [a lógica] porque possui um método para jamais darmos nosso assenti­
mento ao falso nem sermos iludidos por uma verossimilhança capciosa e porque
por ela podemos apreender e conservar o que aprendemos sobre os bens e os males.
[ ... ] A física recebe, e não sem motivo, a mesma honra porque aquele que quer viver
em acordo com a natureza deve buscar seu ponto de partida em todo o universo e na
maneira como este é governado. Além disso, ninguém pode emitir um juízo sobre
os bens e os males sem conhecer a razão de ser da natureza, a vida dos deuses, sem

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