se deve e não se deve fazer e das coisas indiferentes; temperança (sophrosyne), ciên
cia do que é desejável e do que deve ser evitado e dos indiferentes; justiça (dikaio
syne), ciência capaz de atribuir a cada um o que lhe é devido; fortaleza (andreia),
ciência do que é e não é temível e dos indiferentes.
Se a finalidade da vida humana é a virtude, então as ações virtuosas devem
ser reguladas por esse fim, que é "aquilo em vista do qual todas as ações são reali
zadas convenientemente". O conveniente, kathekon,* é aquilo cuja realização
possui uma justificação racional, é o que convém a um ser porque é conforme à
sua natureza, é a função própria de alguma coisa e de uma ação -há convenien
tes para as plantas, assim como para os animais; no caso dos humanos, são os atos
que a reta razão prescreve. Lemos em Diógenes de Laércio:Os estoicos entendem por conveniente (kathekon) o ato que se pode justificar racio
nalmente, enquanto é conforme com a natureza na vida, o que se estende também
às plantas e aos animais porque neles também existem convenientes (Diógenes de
Laércio, VII, 107).Cícero traduziu kathekon por officium, termo que foi traduzido nas línguas
modernas por dever. Os helenistas contemporâneos, porém, julgam que, a partir
de Kant, o conceito de dever ganhou o sentido de lei moral universal imposta a
priori pela razão, enquanto no estoicismo o kathekon provém da racionalidade da
própria natureza, e embora haja convenientes universais (por exemplo, honrar os
pais, socorrer os amigos), há também convenientes particulares, que dependem
do caso ou das circunstâncias, podendo ser inconvenientes ou indiferentes em
outras condições, de sorte que pode haver até mesmo um conflito entre eles.
Além disso, há convenientes que podemos realizar por instinto ou por interesse,
que são racionalmente justificáveis, mas não são atos de virtude; assim como há
atos convenientes que se exprimem no cumprimento dos mandamentos das leis,
mas que não são, em si mesmos, virtuosos. Em suma, o conceito moderno de
dever é inseparável do de virtude, mas não é este o caso do kathekon estoico. Cabe,
portanto, distinguir entre os convenientes racionalmente justificáveis, mas não
virtuosos, praticados pelas plantas, pelos animais e pelo homem comum - esses
convenientes são os preferíveis -, e os conv enientes virtuosos, que os estoicos
denominam ações perfeitas ou ações retas, katorthómata, como os atos de prudência,
justiça, temperança e fortaleza, próprios do sábio.
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