Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

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pato, ouvindo Teofrasto, mas, em seguida, teria sido discípulo da Academia, ou­
vindo Crântor, Crates e pólemon. Ao que parece, estudou dialética com os megá­
ricos e conheceu Pirro. Sucedeu a Crates na direção da Academia. Morreu por
volta de 240 a.C.
Assim o descreve Diógenes de Laércio:

Era extraordinariamente inventivo, afrontando com sucesso as ob jeções, recondu­
zindo o curso da discussão ao tema proposto e adaptando-se a qualquer situação.
Tinha incomparável fo rça de persuasão e por isso muitos acorriam às suas lições,
embora temessem seu espírito agudo. Suportavam, porém, de bom grado suas pro­
vocações porque era muito bom e correspondia à expectativa de seus ouvintes (Dióge­
nes de Laércio, N, 37).

A crermos nos testemunhos recolhidos por Diógenes de Laércio, Arcesilau
tinha o estilo jovial da maiêutica socrático-platônica, o método dialético de Dio­
doro, a conclusão cética de Pirro e seu alvo era a destruição do critério estoico da
verdade. Quanto ao pirronismo, escreve Sexto Empírico que Arcesilau não se
pronuncia nem sobre a existência nem sobre a inexistência das coisas, nem julga
preferível uma à outra, "mas em tudo suspende o juízo". Quanto à dialética de
cunho megárico, também relata Sexto que Arcesilau nunca introduzia uma afir­
mação própria, mas se servia unicamente das apresentadas pelos adversários para
fazê-los cair em contradição e reduzi-los ao silêncio.
No caso da representação apreensiva dos estoicos, Arcesilau argumenta que
ela é contraditória. De fato, a distinção estoica entre ciência - compreensão ina­
balável- e opinião -assentimento fraco - não recusa que o sábio e o ignorante
compartilhem muitas opiniões e noções comuns, cuja origem é a impressão sen­
sorial. Isto significa que tanto o sábio quanto o ignorante possuem representações
apreensivas e, portanto, ou o sábio pode enganar-se, como o ignorante e sua ciên­
cia é impossível, ou o ignorante pode conhecer o verdadeiro e sua opinião não se
distingue da ciência. To davia, o ataque mais profundo é dirigido ao próprio crité­
rio da certeza, isto é, à representação apreensiva e ao assentimento:


Se a apreensão é assentimento à representação apreensiva, então ela é insustentável,
em primeiro lugar porque o assentimento não se dá com relação à representação,
mas com relação à razão (de fato, os assentimentos são juízos); em segundo lugar

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