porque não se encontra nenhuma representação verdadeira que seja tal de modo a
não poder ser falsa (Sexto Empírico, Contra os matemáticos, VII, 154).Há, portanto, duas contradições: a primeira entre a definição da percepção e a
do assentimento, pois os estoicos definem a primeira como assentimento a uma
representação, mas definem o segundo como aquilo que só pode ser dado a um
discurso ou a um juízo; a segunda, entre sua definição da representação verdadeira
e os fatos constatados por eles mesmos, ou seja, a representação verdadeira é tal que
jamais pode tornar-se falsa, porém os fatos negam essa definição - os erros dos
sentidos, os sonhos, as alucinações engendram representações falsas que não po
dem ser distinguidas das verdadeiras por aquele que as experimenta. Ora, isto signi
fica que podemos dar assentimento ao falso e, portanto, nunca podemos ter certeza
da verdade, mas somente opinião. Conclui-se, portanto, que ou o sábio deverá
contentar-se com opiniões, como o ignorante e o mau (o que é inaceitável para um
estoico), ou deverá suspender o juízo sobre todas as coisas, isto é, praticar a epoché,
termo cuja invenção muitos intérpretes atribuem justamente a Arcesilau.
Os estoicos reagiram, afirmando que isso conduziria à abstenção pirrônica e
à inatividade completa, deixando sem solução os problemas da vida, únicos que
interessam ao verdadeiro sábio.
Arcesilau era socrático demais para aceitar essa consequência e considerava
a prudência, ou as ações retas, condição da felicidade. Por outro lado, não podia
admitir o dogmatismo estoico, que fazia a vida reta repousar sobre a ciência, mas,
ao contrário, considera que o homem pode realizar ações sem lhes dar o assenti
mento. É o que acontece, por exemplo, com as ações praticadas por hábito. Ela
bora, então, um critério (khanón ) para que se possa distinguir as ações praticadas
apenas por hábito e aquelas, prudentes ou retas, que, depois de praticadas, podem
ser razoavelmente defendidas: o eulógon, ou o bom argumento, o argumento ra
zoável, o plausível. Visto que o estoico aceita que o não sábio é capaz de ações
morais segundo o conveniente (kathekón), não há motivo para que não aceite o
eulógon.
Carnéades
Considerado um dos pensadores mais sutis e originais da época helenística,
Carnéades, como Sócrates, Pirro e Arcesilau, nada escreveu. Dele sabemos por
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