intermédio de Sexto Empírico e de Cícero, cujos tratados Primeiros e segundos aca
dêmicos, nos chegaram incompletos, tendo-se perdido particularmente os textos
referentes a Carnéades.
Uma das poucas coisas que se sabe de sua vida, além da renovação da Acade
mia, foi sua participação, com o estoico Diógenes e o peripatético Critolau, numa
embaixada que Atenas enviou a Roma, quando causou estupor nos velhos sena
dores e entusiasmo nos mais jovens ao proferir um discurso construído com suti
lezas dialéticas, defendendo e destruindo as mesmas teses. Exerceu essa argúcia
dialética contra os estoicos e, segundo Diógenes de Laércio, teria dito: "Eu nada
seria se Crisipo não existisse".
Uma primeira dúvida sobre seu pensamento concerne à epoché: de acordo
com o testemunho de seu discípulo e sucessor, Clitômaco, Carnéades teria man
tido firmemente a suspensão do juízo; no entanto, segundo o testemunho de ou
tro discípulo, Metrodoro, ele teria abandonado a intransigência de Arcesilau,
afirmação que também se encontra nos textos de Sexto e do neoplatônico Numê
nio, os quais, todavia, não a confirmam.
Carnéades criticou o sistema estoico em sua totalidade: da lógica, criticou a
representação apreensiva, a demonstração e a dialética; da física, a imanência de
deus à natureza, a doutrina da providência e do destino, e a teoria da adivinhação; da
ética, o próprio fundamento, assim como as doutrinas do sumo bem e da justiça.
O ponto de partida da crítica à lógica estoica é, evidentemente, o critério da
verdade. Radical, Carnéades declara que não há critério da verdade: sensações,
impressões, representações, pensamentos e as próprias coisas nos enganam. A
apreensão e a representação apreensiva não são garantias da verdade, pois, como
já dissera Arcesilau, nenhuma representação pode assegurar sua correspondência
ao representado, como atestam os enganos dos sentidos, os sonhos e as alucina
ções. Em outras palavras, não temos como distinguir as representações verdadei
ras das falsas e nenhuma nos oferece condições que permitam o assentimento.
Trata-se, portanto, de suspender o juízo.
No entanto, Carnéades é original. Como Arcesilau, propõe um critério de
razoabilidade, porém, diferentemente dele, dá a esse critério não só uma dimen
são prática, mas também teórica. Propõe o pithanón, o verossímil, o persuasivo,
aquilo em que se pode acreditar ou ter crença, pistis. De acordo com Sexto Em
pírico, o verossímil se encontra a) na representação provável, b) na provável não
contradita e c) na examinada em todas as suas partes.
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