Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1

a) a representação provável ou persuasiva
Uma representação é verdadeira ou falsa em sua relação com o representado,
isto é, com a coisa de que é representação. Como vimos, não há critério algum
que assegure a correspondência entre ambas. Todavia, uma representação é tam­
bém a maneira como algo aparece para alguém. Dado que não é possível determi­
nar a verdade da representação por sua relação com o objeto, resta admitir que ela
é verdadeira segundo aparece para um sujeito. O critério consiste, portanto, em
tomar esse aparecer como verdadeiro e buscar de onde vem sua persuasão. Ora, o
que aparece como verdadeiro é o provável e, portanto, nele deve haver o que jus­
tifique a persuasão ou crença.
b) a representação provável ou persuasiva não contradita
A representação provável que não sofre a refutação de uma contraditória é
aquela cujo grau de probabilidade é o maior. De fato, as representações nunca são
isoladas, mas estão conectadas entre si e a representação provável que não é con­
tradita pelas que lhe são conexas é um critério verossímil de verdade. Assim, por
exemplo, vejo ao longe uma figura em que penso reconhecer um homem; se mi­
nha vista não é fraca, se a distância não é muita, se outras representações, como a
roupa, o andar, os gestos, não desmentem ou não contradizem a figura que julgo
representar um homem, então essa representação é persuasiva e não contradita.
Uma experiência prolongada poderá mostrar que esse tipo de representação rara­
mente é falsa.
c) a representação persuasiva examinada em todas as suas partes
Explica Sexto Empírico:


Na representação examinada em todas as suas partes, submetemos atentamente ao
exame cada uma das representações concorrentes, como se faz nas assembleias po­
pulares, quando o povo examina cada um dos que se apresentam à eleição para go­
vernar ou para julgar. A fim de ver se é digno de que lhe seja confiado o oficio de
governador ou de juiz (Sexto Empírico, Contra os matemáticos, VIII, 182).

É interessante observarmos a referência aos procedimentos da pólis demo­
crática para ilustrar um procedimento teórico. Sob este aspecto, menos do que
em Platão, a atitude de Carnéades nos faz pensar nos sofistas e em Sócrates.
Sexto prossegue:


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