estoicos que quem possui uma virtude possui todas. Se os deuses são perfeita
mente virtuosos, devem ser temperantes. Ora, argumenta Carnéades, a tempe
rança é uma forma de resistência ao que é mau; logo, os deuses têm experiência
do mal. Se têm experiência do mal, são corruptíveis, logo, não são deuses. E o
mesmo pode ser dito de cada uma das virtudes, pois cada uma delas é uma forma
de contrapor-se ao que é mau.
Ao que parece, Carnéades também desenvolveu uma argumentação que
não visa diretamente aos estoicos, mas à teologia grega em geral. Indaga se deus
é finito ou infinito, corpóreo ou incorpóreo, se tem ou não voz; e prova a impos
sibilidade de cada uma das alternativas. Deus não pode ser infinito, pois seria
imóvel e sem alma; mas não pode ser finito, pois então faria parte de um todo
maior que o dominaria. Deus não pode ser incorpóreo, pois um incorpóreo não
age; mas não pode ser corpóreo porque todo corpo é corruptível. Não pode ter
voz, uma vez que não há qualquer razão para atribuir-lhe esta ou aquela lingua
gem; mas não pode estar privado de voz, pois isto contraria a noção comum que
os homens têm dele. Deus é um mistério. Se se quiser falar sobre ele, há de ser
com ausência de qualquer traço antropomórfico.
Quanto à adivinhação, indaga Carnéades: se um acontecimento predito é
fortuito, então, como prevê-lo? Mas se é necessário, é objeto de conhecimento,
então, para que prevê-lo? Além disso, de que serve a predição, se nada podemos
fazer para impedir o acontecimento?
No que se refere ao destino, emprega os argumentos clássicos que provam
que, apesar dos esforços, os estoicos inviabilizam a liberdade como algo em
nosso poder. Segundo Cícero, Carnéades contesta a teoria da causalidade como
ordem e conexão necessárias das causas, com que os estoicos pretendem sus
tentar a racionalidade do destino. Argumenta ele: do reconhecimento de que
nada acontece sem causa não se pode concluir que tudo acontece por força do
destino. Nada impede que se admita que pode haver causas independentes da
trama das causas necessárias: a vontade humana poderia, por exemplo, ser uma
dessas causas.
Finalmente, no tocante à ética, Carnéades considera que a teoria estoica dos
preferíveis não está distante, no plano das consequências, da moral platônica e da
aristotélica, que também consideram esse o princípio para a escolha das ações.
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