Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1

O estoicismo de Panécio e Posidônio


De acordo com Bréhier, os sucessores de Crisipo até Panécio, isto é, entre
204 e 129 a.C., modificaram alguns aspectos do estoicismo. Assim, segundo Sexto
Empírico, passaram a admitir como critério da verdade não mais a representação
apreensiva isolada, mas aquela que não depara com obstáculos, de maneira que a
certeza é menos a própria representação e mais sua relação com o conjunto de
que faz parte. Neste caso, podemos acrescentar que, de algum modo, embora
combatam Carnéades, teriam incorporado a ideia deste último sobre a represen­
tação persuasiva examinada em todas as suas partes.
Ainda segundo Bréhier, os novos estoicos teriam afrouxado alguns traços
essenciais da física, como, por exemplo, a doutrina da conflagração universal, que
alguns passaram a negar com base nos argumentos de Boécio de Sídon, que reto­
ma ideias clássicas da teologia grega anterior ao estoicismo e para quem o caráter
divino do mundo não é compatível com sua corruptibilidade. Em primeiro lugar,
diz Boécio, as ideias de criação e desaparição do mundo não provam o poder de
deus, mas sua impotência - cria o mundo porque lhe falta algo para a plenitude
(ou seja, se lhe falta algo, o deus não é perfeito) e o deixa corromper-se porque
não tem potência para sua conservação (ou seja, o mundo caminha por si mesmo,
sem deus). Em segundo, a imanência de deus ao mundo, que define a totalidade
do existente para o estoico, significa que a corrupção não pode vir do exterior,
que é o nada, nem do interior, que é divino. Finalmente, o argumento mais pode­
roso é o de que, durante a conflagração, deus permanece inativo e um deus inati­
vo é um deus morto.
Também há mudanças na moral. Assim, por exemplo, as formulações de
Diógenes da Babilônia - "usar a razão na escolha das coisas concordes com a
natureza e na rejeição das contrárias" - e de Antípatro - "viver escolhendo o
que é conforme a natureza, rejeitando aquilo que é contrário" -indicam que,
agora, os estoicos insistem sobre a necessidade e as razejes de uma escolha, pois
nem todas as boas escolhas são igualmente boas, nem todas as faltas, igualmen­
te más.
Essas mudanças se acentuarão com aquele que renovou o estoicismo e lhe
deu um novo esplendor: Panécio de Rodes.


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