Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
Física, que, no dizer de Diógenes de Laércio, afirma que o cosmo é único, finito e
de forma esférica, pois a superficie é algo realmente existente, e a esférica é a mais
apta ao movimento; e identifica deus e essa superficie esférica que circunda o
cosmo, ou seja, o céu.
Como a filosofia é sistema, essa distinção, evidentemente, incide na teoria da
adivinhação (que Posidônio, ao contrário de Panécio, mantém), na qual se distin­
guem três modalidades de predição: a que vem do deus, quando este fala pela
boca ou pelos sonhos do profeta inspirado, momento em que a alma entra em
relação direta com o divino; a que vem do destino, como nas observações científi­
cas da astrologia; e a proveniente da natureza, como nas observações tecnicamen­
te reguladas ou metódicas da medicina - em outras palavras, destino e natureza
são redes causais inteligíveis.

Que os moribundos sejam dotados de qualidades proféticas, confirma-o Posidônio
[ ... ]. Sustenta, ademais, que os sonhos manifestam-se aos homens, por influxo di­
vino, de três modos: em primeiro lugar porque a alma por si é capaz de prever o
futuro, enquanto ligada por vínculos de parentesco com a divindade; em segundo
lugar porque no ar existe um número infinito de almas imortais nas quais estão, de
certo modo, impressas as marcas da verdade; por último, porque os próprios deu­
ses descem para falar com os homens enquanto estes dormem (Cícero, Da adivi­
nhação, I, 30, 64).

Mudanças na psicologia e na ética
Colocando-se contra Crisipo, Posidônio afirma, com Panécio, a distinção
entre dois princípios ou forças no interior da alma: o irracional- dividido, à ma­
neira platônica, em apetitivo e irascível - e o racional ou hegemônico; e nega
que a paixão seja apenas uma opinião ou um juízo da razão, pois isso é contestado
pela experiência do tumulto passional em que vivemos.
A psicologia de Posidônio nos é conhecida por intermédio de Galeno. Criti­
cando Crisipo, indaga Posidônio: como haveria a desmedida da paixão, se houves­
se apenas o princípio racional na alma? Criticando Zenão, indaga: se a paixão for
apenas uma opinião falsa, como explicar que Zenão defina o prazer como opinião
sobre um bem e não admita que o sábio, ao ser fe liz, sente prazer? Por seu turno,
Crisipo nada entende sobre a paixão ao considerá-la uma doença da alma cuja
causa não pode determinar, pois, havendo apenas o princípio racional, teria de


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