Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1

ção é juridicamente muito clara), nem nos plebeus ricos (que ascenderam à
nobreza estamental, ainda que, no plano das ordens, possam ter permanecido
fo ra do patriciado), mas nos plebeus pobres que se consideram cidadãos roma­
nos, ao mesmo tempo que são "mecânicos" e, portanto, pertencem ao esta­
menta dos homens servis, sem serem escravos. Como consequência, Roma,
que quando não consegue dar uma "solução" militar a uma dificuldade social
ou política, sempre a resolve pela via jurídica, passa a distinguir juridicamente
duas classes sociais, os honestiores (honrados) ou homens bons, isto é, as classes
superiores (a ordem patrícia e o estamento da nobreza), e os humiliores, isto é,
as classes subalternas (a plebe urbana pobre constituída pelos artesãos e peque­
nos comerciantes).6
No campo, a divisão social é um tanto diferente. Durante a república, exis­
tem patrícios latifundiários, pequenos proprietários plebeus e escravos; no iní­
cio do império, acrescentam-se os locatários, que administram as terras dos
patrícios que, agora, vivem em Roma, e camponeses livres, antigos pequenos
proprietários que perderam suas terras por dívidas. Com a expansão do império
e a tentativa de Augusto de satisfazer aos patrícios, aos plebeus ricos e aos gene­
rais plebeus dando-lhes terras, o imperador se torna senhor do fundo público,
isto é, as terras romanas tornam-se propriedade do imperador que as cede a
quem desejar, mas cobra altos impostos e taxas, com os quais sustenta as cam­
panhas militares e a plebe pobre urbana ("pão e circo", isto é, distribuição de
trigo e diversão). Essa situação tributária produz duas consequências principais:
pequenos proprietários endividados migram para Roma, indo engrossar as filei­
ras dos humiliores, enquanto outros pequenos proprietários, locatários e campo­
neses livres buscam a proteção dos grandes latifundiários, pagando-os com
trabalho, produtos e cessão de terras, tornando-se coloni, colonos. O colonato,
no campo, corresponde aos humiliores, na cidade.
O Império Romano conhece, assim, uma organização social fo rtemente
hierarquizada e centralizada em cujo topo se encontra o imperador, abaixo dele,
a burocracia imperial (os que cuidam do Direito e dos tributos e mantêm a orga­
nização militar), os exércitos, a nobreza (patrícios, homens novos e amigos de
Roma, os honestiores ou homens bons), a plebe urbana (os humiliores ou homens vis),
a plebe camponesa (os coloni) e os escravos.
Como observa o historiador Perry Anderson em sua obra Passagens da Anti­
guidade ao Feudalismo, a história política e social de Roma difere da grega porque


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