Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

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o da república, o da fundação e autoridade, o da relação entre virtude e fortuna ou
romanitas, e o de Roma "cidade eterna".

a) a república
Os historiadores observam que, diferentemente da Grécia, na qual os pensa­
dores sempre escreveram contra a democracia (ou, como vimos, a elogiaram
atribuindo-lhe valores aristocráticos), os escritores romanos (historiadores, retó­
ricos, poetas, dramaturgos e comediógrafos, filósofos) sempre elogiaram a repú­
blica e combateram sua decadência sob a ditadura de César e o império. Otávio,
ao ser declarado imperador, insistia em ser chamado princeps, primeiro cidadão da
república e, sob o domínio posterior dos césares, as decisões romanas sempre
traziam o selo SPQR, por vontade e decisão do Senado e do Povo Romano -Sena­
tus Populusque Romanus.
O motivo para a permanência da imagem da república deve-se, como observa
Perry Anderson, ao fato de que o patriciado jamais perdeu o monopólio do poder,
mesmo quando este não pertencia ao senado, rendido ao prestígio, ao poderio e à
capacidade de corrupção dos imperadores. Sob o principado, a ideologia romana
fez o elogio da república como regime misto, que, graças a Pohbio e a Plutarco, fora
atribuído a Aristóteles quando este definira o regime político perfeito. De fato, di­
ziam os romanos, Roma é um regime misto perfeito porque reúne a monarquia (o
princeps), a aristocracia (o senado) e a democracia (os tribunos da plebe e o plebisci­
to), devendo a isto sua estabilidade e potência para dominar o mundo.
De onde vem o privilégio conferido à república? Do outro tema ideológico
diretamente relacionado ao republicano: o da autoridade e fundação.


b) a fUndação e a autoridade
A palavra auctoritas, como nos mostra o linguista Emile Benvéniste, deriva­
-se do verbo latino augeo, que significa fazer vir à existência, dar início a uma ativi­
dade, e fazer aumentar ou crescer. Desse verbo provém a palavra auctor, autor,
como aquele que primeiro realiza uma atividade ou aquele que toma a iniciativa
de alguma ação, sendo, por isso, o que garante essa ação e responde por ela, aque­
le que funda alguma coisa, o fundador. O auctor-fundador é aquele investido de
auctoritas, autoridade. A auctoritas é o ato de produzir alguma coisa pela primeira
vez, é a qualidade da iniciativa que reveste um alto magistrado para realizar a
fundação. Como escreve Benvéniste:


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