Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
Com Cícero, testemunhamos a síntese de dois momentos finais: o da filoso­
fia grega, que passará a fa lar latim, e o da cultura republicana romana, que se
manterá apenas como discurso de justificação do cesarismo. Essa posição deter­
mina a singularidade de seu pensamento, pois a defesa da filosofia que, diz ele, é
"desconhecida de nossos romanos" se realiza pela crítica de que dedicar-se a ela
imponha ócio, reclusão e abandono da atividade pública. Assim, no início do Li­
vro 11 de Sobre os deveres, ele escreve:

Não obstante, de tão grandes males [as tribulações de sua vida pública] creio ter
vindo um bem: escrever sobre assuntos não muito conhecidos de nossos romanos e
muito dignos de conhecer-se. Pois o que é mais digno de ser buscado, mais nobre,
mais útil, mais digno do homem do que a sabedoria? Dá-se o nome de filósofos aos
que aos que a estudam e a palavra filosofia não quer dizer senão amor à sabedoria
(Sobre os deveres, 11, 2).

Esse elogio da filosofia se completa com as palavras do Livro I de Sobre a república:


Ainda mesmo que fo sse lícito colher o maior fruto do ócio pelo doce e variado dos
estudos a que me consagro desde a ma ncia, e ainda mesmo que alguma calamidade
se abatesse sobre todos minha condição não devesse ser pior, mas a mesma dos ou­
tros, não vacilaria em arrostar as maiores tormentas para a salvação de meus conci­
dadãos,julgando sacrificar minha tranquilidade pelo bem comum. A pátria não nos
gerou nem educou sem esperança de que nada fa çamos por ela, mas apenas para
nossa comodidade. Não, ela deve reter para seu serviço o melhor de nossas forças e
o que há de melhor em nossa alma, nosso espírito e nosso engenho [ ... ]. Os sete va­
rões que os gregos chamaram de sábios ocuparam-se com os negócios da cidade. E
nada aproxima tanto a virtude humana da divina do que fundar novas cidades e
conservar as já fundadas (Sobre a república, I, 4 e 7).

A vida..........................................................


Conhecemos a vida de Marco Túlio Cícero por suas cartas, pela biografia
escrita por Plutarco nas Vidas, pelas referências fe itas por Aulo Gelo nas Noites
áticas e Tácito nas Histórias, e pelos Padres da Igreja.


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