Por sua vez, em Esboços da história da filosofia grega, caracterizando o período
helenístico, Eduard Zeller, ainda que numa posição mais atenuada do que as en
contradas em Bréhier e Windelband, escreve:A revolução sobre a vida do povo grego causada pela subida de Alexandre ao poder
e suas conquistas iria ter profunda influência sobre o saber. Enquanto nos países do
sul e do leste um imensurável campo de trabalho abria-se, as mentes eram espica
çadas pela abundância de novas ideias, novos centros internacionais de educação
eram criados e as escolas gregas recebiam o influxo dos estudantes e professores
orientais, a Grécia, espoliada de sua independência e atividade políticas, tornou-se
objeto de disputas para os estrangeiros e o palco de suas lutas. A prosperidade e a
população do país declinaram consideravelmente. As antigas crenças há muito ha
viam cessado de ter qualquer influência moral e agora, com o desaparecimento
daquela atividade política vigorosa dirigida a fins altos e liberais, a moralidade
ameaçava afundar-se nos pequenos interesses da vida privada, na busca de prazeres
e ganhos e na luta pela sobrevivência cotidiana. Nessas circunstâncias, era natural
que o desejo e o poder de uma livre visão do mundo puramente cientifica desaparecessem,
que os problemas práticos viessem à frente e que a filosofia encontrasse seu principal valor
providenciando um refúgio para as misérias da vida. Ainda assim, para isto também o
gosto especulativo dos gregos e a convicção racionalista que se enraizara desde
Sócrates tornaram indispensáveis uma teoria científica definida. É, porém, facil
mente compreensível que essa missão da filosofia somente pudesse ser preenchida
pelo indivíduo que se fez a si mesmo independente de todas as circunstâncias exter
nas e mergulhou completamente em sua vida interior [ ... ]. Doravante, nos sistemas da
filosofia helenística, a ética e a teoria social passam a ocupar posições proeminen
tes, mesmo que busquem nos pré-socráticos, como Heráclito e Demócrito, as bases
metafísicas (Zeller, 1931, p. 207).Na História dafilosofia, Hegel afirma que a marca própria do período hele
nístico é o dogmatismo: perdida a referência a uma realidade - a pólis - que
possuía sentido e punha questões ao pensador, a filosofia teria passado a definir a
verdade como harmonia ou adequação do pensamento às coisas, mas, dada a
exterioridade e o vazio delas, a harmonia e a adequação referiam-se, afinal, à re
lação do pensamento consigo mesmo, à auto consciência ou consciência de si.
Por conseguinte, escreve Hegel, tudo o que existe só será verdadeiro se puder ser
(^23)