razão, lei suprema do homem. Por isso as melhores leis do Estado são aquelas
feitas pelos sábios e somente estes têm autoridade para reformá-las.Nada é tão conforme ao direito e à ordem da natureza (pelo que entendo a lei e nada
mais) do que um poder de comando (imperium) sem o qual nenhuma família, ne
nhuma cidade, nenhuma nação, nem todo o gênero humano, nem a natureza nem
o mundo poderiam subsistir. O mundo obedece a Deus. Ao mundo, obedecem ter
ras e mares. E a vida humana está submetida aos mandamentos de uma lei suprema
(Sobre as leis, 111, 1).2Aética
Se, na questão do conhecimento, Cícero acompanha os acadêmicos e na
discussão da política segue os passos de Poh'bio, na ética a referência são os estoi
cos e, entre eles, Panécio, que Cícero afirma explicitamente seguir, "mas sem
submissão, como é nosso estilo", diz ele na abertura de Sobre os deveres.
A passagem da política à ética e desta àquela se efetua no De officiis, que Cíce
ro escreve para orientar seu filho na vida privada e na pública porque "nada em
nossa vida se esquiva ao dever: observá-lo é virtuoso, negligenciá-lo, desonra".
Acompanhando Panécio, Cícero circunscreve o campo em que a decisão
moral deve ser tomada. Esse campo é balizado por três exigências: a distinção
entre o honesto e o desonesto, a utilidade para si e para os outros, a concordância
entre o honesto e o útil.
O fundamento sobre o qual a decisão se move é, como disseram os estoicos,
a tendência inata ou natural à autoconservação, a oikeiósis, e a atração dos dois
sexos para a propagação da espécie e o cuidado com a prole. A essa tendência
acrescenta-se no homem aquilo que o distingue dos animais, a razão, que lhe dá o
sentido do tempo, a visão do fluxo da vida e oferece o necessário para iniciar uma
profissão. Como amor de si, a oikeiósis, só se realiza pela humanitas, isto é, no
amor pelo outro. A natureza aproxima os homens, leva-os à comunicação pela
palavra e à vida em comum. É também a natureza que, por meio da razão, os faz
encontrar o que lhes é mais próprio: a procura da verdade, imprescindível para a
felicidade, pois é ela que mostra o que é conveniente ao homem, fazendo-o amar
a liberdade, visto que "o homem bem nascido não deseja obedecer a ninguém,