Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

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senão àquele que o educa e o dirige na utilidade comum, de acordo com a justiça
e as leis". Só ao homem a natureza concedeu a percepção da beleza - a graça e a
proporção das coisas -, que o ensina a buscá-la também em seus desejos e ações.
O belo é equihbrio, proporção, que, em latim, se diz ratio, razão. Da percepção do
belo nasce a honestidade, "que nada perde de sua beleza, mesmo quando não é
notada, e que é louvável por si própria, mesmo quando por ninguém é louvada".
Te mos, assim, o traçado estoico da ética, mas com uma novidade romana: a
ideia da virtude como honestidade, ou a figura do homem honesto, o homem de
bem ou, mais precisamente, o que a sociedade romana chama de homem bom.
Quatro são os elementos constituintes da honestidade: busca da verdade, senso
de justiça, fo rça de caráter e moderação das paixões:

A honestidade consiste em descobrir a verdade pela argúcia do espírito ou em man­


ter a sociedade humana dando a cada um o que é seu e observando fielmente os
costumes; encontra-se ainda ou na nobreza e fo rça de uma alma indômita e inque­
brantável ou nessa ordem e medida perfeita das palavras e ações, resultando daí a
moderação e o comedimento (Dos deveres, I, 5).

O primeiro elemento, exercício criterioso da razão, define o sábio; os outros
três definem a utilidade, necessária à autoconservação e à harmonia da vida em
sociedade. Da honestidade procedem as demais virtudes, que, guardando a or­
dem e a medida, lhe são fiéis. O primeiro dever, portanto, é o conhecimento. A
busca da verdade nasce do desejo natural de conhecer. Para que seja honesta, deve
evitar, em primeiro lugar, tomar como conhecidas as coisas desconhecidas, fa zen­
do afirmações precipitadas; em segundo, lançar-se com ardor no estudo de coisas
obscuras, dificeis e desnecessárias. É preciso medida nos estudos para que não nos
fa çam negligenciar os negócios privados e públicos, pois" o valor da virtude está
na ação". Dessa maneira, a finalidade do estudo é propiciar resoluções honestas
sobre as coisas que dizem respeito à fe licidade de cada um e de todos.
O segundo elemento - o senso de justiça -, "mais fé rtil e amplo" que os
outros três, leva a manter a sociedade por meio de duas virtudes: ajustiça, "a
mais admirável das virtudes, primeira qualidade do homem de bem", e a bene­
ficência, que também pode ser chamada de bondade ou generosidade. O dever
de justiça é não causar dano a outrem, a menos que para defender-se de uma
injúria; o da beneficência, empregar em comum os bens públicos e como pró-


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