prios apenas os privados. Os bens públicos, porque comuns, asseguram a cada
um sua parcela, mas é dever de todos impedir que alguém ou alguns os usur
pem, transformando-os em bens privados, "quebrando as leis da sociedade hu
mana". A res publica como res populi só é conservada, portanto, pela virtude dos
cidadãos que cumprem os deveres da justiça e da beneficência - a política é
inseparável da moral. Além disso, não nascemos sozinhos e o que possuímos
devemos aos nossos antepassados, à nossa pátria e aos nossos amigos. Por isso a
natureza nos ensina a aj udarmos uns aos outros, empenhando-nos em dar e
receber e estreitar os laços da sociedade unida à natureza. Mencionando explici
tamente o ensinamento dos estoicos, Cícero apresenta, assim, a oikeiósis e sua
propagação pelas relações sociais e afirma que ela determina o sentido ve rda
deiro do útil.
O terceiro elemento da honestidade, isto é, a fo rça do caráter, aparece no
fu ndamento da justiça: a fidelidade -fides - à boa-fé. Cícero a examina sob
duas perspectivas: pela definição e pela etimologia. A fidelidade é a firmeza e
veracidade de palavras e atos. Imitando os estoicos, diz Cícero, que buscam es
crupulosamente a origem das palavras, deve-se dizer que fides vem de fiat -fa
ça-se -, porque fidelidade é fa zer o que se promete. Por sua vez, a injustiça é de
dois gêneros: a ação dos que fazem a injúria e a omissão dos que, podendo de
fe nder o injustiçado, não O fa zem. A justiça nasce da reta razão; a injustiça, da
paixão, e, dentre as paixões, duas são as mais responsáveis por ela: o medo, que
leva a prejudicar um outro por receio de ser por ele prejudicado, e a ambição,
que fa z buscar riqueza, honra, fa ma, glória e poder às custas do mal alheio e
com prejuízo para o bem comum.
A seguir, Cícero enumera as condutas contrárias ao honesto e os deveres que
melhor o realizam, hierarquizando-os em deveres para com os deuses imortais, a
pátria, a fa mília e os demais:
Damos por concluído este assunto dizendo que, na escolha das obrigações, a primei
ra é a que afirma a relação com a sociedade, porque do conhecimento e da sabedoria
segue a ação correta, e por isso cabe dizer que agir com retidão é mais importante
do que pensar com prudência (Sobre os deveres, I, 45).Ora, a ação reta não é apenas honesta, mas também útil. Embora o hones
to e o útil sejam inseparáveis, sua identidade precisa ser demonstrada. Ora, a