pensado em conformidade com os princípios da consciência de si e, portanto,
com o próprio pensador. A verdade perde a concreticidade da relação entre o
subjetivo e o objetivo para tornar-se puramente subjetiva, formal e abstrata.
Donde a tendência ao aparecimento de doutrinas e escolas e da identificação do
filósofo ao sábio como mestre e guia. Espera-se da filosofia que seja um guia para
a vida, que propicie recolhimento, isolamento, libere o indivíduo do mundo e
lhe confira o poder de autodomínio sobre suas paixões.Porque o princípio dessa filosofia não é objetivo, mas dogmático e repousa no im
pulso da consciência de si rumo à autossatisfação o que há para ser considerado são
os interesses do sujeito. Este busca por sua própria conta um princípio para sua li
berdade, qual seja, a imobilidade em si mesma [ ... ]. A consciência de si vive na soli
dão de seus pensamentos e aí encontra satisfação (Hegel, 1968, t. 11, 234).Essa tendência dogmático-doutrinária se reforça, afirma Hegel, sob o
Império Romano. Na "luminosa Grécia", escreve o filósofo alemão, o indiví
duo estava apegado ao Estado e ao mundo, "neles estava em casa". Em contra
partida, "na prosaica Roma", desapareceu o que Platão e Aristóteles haviam
construído, isto é, a moralidade concreta ou a introdução do princípio univer
sal na constituição do Estado. Tudo quanto havia de 'belo e nobre na individuali
dade espiritual foi brutalmente varrido" pelo espírito prático romano, que es
tendeu sua regra abstrata ao mundo inteiro. Diante desse poder universal e
abstrato, exterior e sem sentido concreto, o indivíduo não encontrava mais a
referência de sua nação, de sua pátria e de seu Estado, forçando-se a recolher-se
numa individualidade interiorizada e a encontrar nela o refúgio da liberdade.
À regra universal e abstrata do césar romano, que governa o universo civiliza
do, corresponde, filosoficamente, o elogio do sábio como indivíduo cuja von
tade domina o mundo exterior e a si mesmo e que por isso considera-se livre
mesmo sob grilhões.
o mundo romano é o mundo da abstração, no qual uma única regra fria estendeu-se
por todo o mundo civilizado. As individualidades dos espíritos nacionais vivos foram
sufocadas e mortas; um poder estrangeiro, como um universal abstrato, pressionou
pesadamente os indivíduos. Sob tais condições era preciso refugiar-se na liberdade
interior do sujeito enquanto tal. E como o que era levado em consideração era ape-