Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
beça para baixo e que, como nós, não despencam da terra no primeiro céu porque
"há tendência do universo para o centro".
Resta saber como os átomos se movem e quais são suas fo rmas, a fim de co­
nhecermos como e por que as coisas são geradas, constituindo um mundo orde­
nado. É este o objeto do Livro lI.
O Suave, mari magno do prólogo do Canto II é fa moso:

É doce, quando o vasto mar (suave, mari magno) é agitado pelos ventos, ver da terra a
grande aflição dos outros, não porque o tormento de outrem traga jocundo deleite,
mas por que é doce ver de que males se fo i poupado [ ... ]. Porém, doçura maior é
habitar os altos lugares nos templos serenos alicerçados sobre a doutrina dos sábios
(Da natureza, 11, 5-6).

Esse prelúdio é logo seguido por uma imprecação contra a imprudência dos
que, por ignorância, se expõem aos maiores perigos, procurando aqui e ali, no
meio das trevas, "o caminho da vida", disputando honras, opulência e glória, es­
fa lfando-se noite e dia para tomar o poder: "ó miserável mente dos homens, ó
ânimos cegos!". Por que não escutar o grito imperioso da natureza de que bastam

um corpo isento de dor e uma alma fe liz, livre de inquietação e medo? À impreca­


ção segue-se o remédio:

Para dissipar os terrores, as trevas do ânimo, não é preciso o dia nem os raios lumi­
nosos do sol, mas o estudo racional da natureza (Da natureza, 11, 60).

A menção, fe ita duas vezes, à turbatio, a turbulência do mar e a do ânimo,
prepara poeticamente o tema do Canto lI: a turbatio dos parvissima, o movimento
dos átomos, os turbilhões que fo rmam agregados e mundos.
As mudanças dos e nos corpos indicam que a matéria não está em repouso,
mas sempre em movimento. Este é essencial aos átomos porque não há um cen­
tro onde possam parar. Tendo o vazio profundo como condição, o movimento é
velocíssimo - "mais rápido do que a luz do sol" -, pois não encontra obstáculos,
e, como uma chuva, se realiza verticalmente do alto para baixo, em decorrência
do peso dos átomos. Todavia, o movimento vertical de queda não é sempre rigo­
rosamente paralelo, pois neste caso: a) em virtude do vácuo, os átomos mais leves
nunca alcançariam os mais pesados e b) nenhum átomo se encontraria com os


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