Alexandre e os ginosojistas
Muitos historiadores da filosofia atribuem a orientalização filosófica, no
Helenismo, ao fato de que quando Alexandre partiu com suas expedições con
quistadoras rumo à Pérsia e à lndia ("preciso ir ao fim do mundo", insistia ele),
alguns filósofos o acompanharam: Calístenes, sobrinho de Aristóteles, que será
morto pelas mãos do próprio rei sob acusação de haver conspirado, Anaxarco,
adepto do atomismo de Demócrito, Onesicrito, discípulo do cínico Diógenes, e
Pirro, que, voltando à Grécia, fundaria em sua cidade natal, Élis, uma escola ini
cialmente chamada de pirrônica e, mais tarde, cética.
A crermos num dos historiadores oficiais das expedições, Arrio, foram to
dos profundamente tocados pela descoberta daqueles que receberam, em grego,
o nome degymnosophístes, ascetas bramânicos, vivendo seminus e praticamente
em jejum, dando provas de extraordinária resistência fisica às condições naturais
e de espantoso distanciamento ou indiferença diante da potência militar daquele
que pisava o solo da Índia. De um desses sábios, a quem propusera que o acom
panhasse, Alexandre teria ouvido a seguinte resposta:Nada quero de ti, pois o que tenho basta [ ... ], do que me podes oferecer, nada
desejo que possas me dar, não temo a falta dos bens que talvez sejam os teus. A
Índia, com os frutos de seu solo prodigalizados na boa estação, me basta para
viver e quando eu morrer, me desembaraçarei de meu pobre corpo (Arrio, 1958,
VII, p. 349).No entanto, podemos indagar se os ginosofistas, efetivamente, provoca
ram tanta estranheza nos filósofos. O abandono do sensível, véu de ilusórias
aparências, a indiferença à dor ou ao prazer, a resistência a condições fisicas
desfavoráveis, o desprezo pelos poderosos e a busca de purificação para livrar
-se da "roda dos nascimentos", nada disso, afinal, era inteiramente estranho
aos filósofos gregos.
Em contrapartida, poderíamos supor que a estranheza dos filósofos fosse
provocada por Alexandre.
Como vimos no volume I, tendo inventado a política, os gregos haviam
distinguido entre o sagrado e o profano, entre o poder segundo a lei e o poder
arbitrário da vontade individual, portanto, entre política e despotismo. Com a