Galeno. Todo o material disperso foi recolhido num trabalho do século XIX, Frag
mentos dos antigos estoicos, por Hans von Arnim, hoje bastante criticado e suplan
tado por coletâneas mais completas e mais bem traduzidas, como a italiana de N.
Festa Fragmentos dos estoicos antigos (de 1935), a alemã de M. Pohlenz Stoa e estoi
cos (de 1946 e 1950), a francesa de E. Bréhier e P. M. Schull Os estoicos (planejada
na primeira metade do século xx e publicada em 1962) e a italiana de M. I. Paren
te Os estoicos: obras e testemunhos (de 1989).
O caso do ceticismo é ainda mais complicado, por dois motivos principais:
o primeiro é que não há um ceticismo (no qual distinguiríamos o antigo e o im
perial), mas vários já no período antigo; o segundo é que seu primeiro pensador,
Pirro, nada escreveu e devemos nos fiar no que escreveu sobre ele seu discípulo
Tímon. Acompanhemos o que diz Jacques Brunschwig:A época helenística se abre com Pirro, que a tradição designa como inventor da
atitude cética; porém, mesmo seu mais fe rvente admirador, Tímon, não parece
pensar que ele tenha sido o pleno inventor. As fo rmas de ceticismo que se desenvol
veram durante essa época não são todas tributárias de Pirro: poderiam perfeita
mente referir-se a outros modelos que não o seu. Ao que parece, é preciso, pois,
falar no plural da história dos ceticismos helenísticos e sublinhar o caráter pouco
linear dessa história, cheia de reações e interações. O que domina a cena nos sécu
los III e 11 a. C. é a virada cética imprimida à Academia platônica, principalmente por
Arcesilau (31 6-241 a.C.) e por Carneádes (421-129 a.c.). Quanto à tradição inaugu
rada por Pirro e prosseguida com Tímon, era objeto de controvérsia na Antiguida
de, como testemunha Diógenes de Laércio: alguns pretendiam dar-lhe uma conti
nuidade sem falhas, mas testemunhos probantes, entre outros, o de Cícero, atestam
que ela se perdeu nas areias do tempo, antes de ter uma vigorosa ressurreição no
século I a.C. (Brunschwig, 1997, p. 563).No caso dos céticos, ao lado de fragmentos dos platônicos e de Tímon, te
mos que recorrer a Diógenes de Laércio, que lhes dedica o livro IX das Vidas, a
Cícero, Plutarco, ao cético do período imperial, Sexto Empírico, a um dos pri
meiros pensadores da Patrística, Eusébio de Cesareia, e ao filósofo judeu Filo de
Alexandria. As coletâneas mais recentes de textos são a francesa de J. P. Dumont
Os céticos gregos (de 1966), a italiana de A. Russo Os céticos antigos (de 1978) e a
inglesa de J. Annas e J. Barnes (orgs.) Os modos do ceticismo: textos antigos e interpre-
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