Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
ceticismo sem falar da Nova Academia, situada entre o primeiro e o segundo perío­
dos (Brochard, 1969, pp. 37-9).

Embora a maioria dos estudiosos do ceticismo tenha adotado a divisão pro­
posta por Brochard, nem por isso a considera inteiramente satisfatória porque,
como explica Frédéric Cossutta, a mera sucessão cronológica não dá conta dos
motivos que levaram a ttansformações nas doutrinas e às suas várias figuras. Seria
preciso evidenciar a lógica interna das vicissitudes de uma história que durou
quatro séculos e mostrar que as mudanças do ceticismo foram produzidas pelas
tentativas múltiplas dos sucessores de Pirro para superar e contornar dificuldades,
contradições e ambiguidades próprias da "natureza paradoxal de sua mensagem
filosófica". Não há uma história linear e contínua do ceticismo, mas retomadas e
diferenciações que nos permitem falar, no plural, em ceticismos.
Somos, assim, conduzidos à segunda questão geral, isto é, pode-se falar
numa escola cética e numa doutrina cética?


Com efeito, coloca-se a questão de saber se há um corpo de doutrina e se a ideia de
ensinamento ainda tem algum sentido para tal filosofia (Cossutta, 1994, p. 55).

Sképsis, zêtetês


Quando se fala em ceticismo, imediatamente entende-se uma filosofia que
argumenta de todas as maneiras para mostrar que não existe nenhuma base sóli­
da, nenhum fundamento para o conhecimento e até mesmo para a crença. A ins­
tabilidade sensorial, a pluralidade de opiniões e convenções, as contradições lógi­
cas indicam que nem a sensação nem o pensamento racional podem apresentar-se
como alicerces do conhecimento.
Na abertura de sua obra Esboços pirrônicos, Sexto Empírico apresenta "as
principais diferenças entre as filosofias", distinguindo entre dogmáticos, acadêmi­
cos e céticos:


Os que buscam alguma coisa são, naturalmente, levados ou a descobri-la, ou a negar
que possa ser descoberta, confessando seu caráter inapreensível, ou a continuar em
sua busca. Assim, sem dúvida, nas investigações filosóficas, alguns pretenderam ter
encontrado a verdade, outros declararam que ela é inapreensível e outros ainda a
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