Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
procuram. Os que são chamados dogmáticos acreditam tê-la encontrado - por
exemplo, Aristóteles, Epicuro, os estoicos e outros -; os que provaram seu caráter
inapreensível são Clitômaco, Carnéades e outros acadêmicos; os que continuam a
buscá-la são os céticos (Sexto Empírico, Esboços pirrônicos, I, 157).

Quando, no livro IX das Vidas e doutrinas, Diógenes de Laércio se refere a um
grupo de filósofos seguidores de Pirro, escreve que " os filósofos céticos passavam
seu tempo destruindo os dogmas de outras escolas e não estabelecendo nenhum
que fosse seu próprio". Diz também que foram chamados de pirrônicos, céticos e
buscadores. E explica: pirrônicos por causa de seu mestre; skeptikói porque ob­
servavam tudo sem nada encontrar de seguro; zêtêtikói
porque procuravam a
verdade por toda parte e, nunca a encontrando, jamais cessavam a busca.
O texto de Sexto Empírico distingue o cético dos demais porque recusa si­
multaneamente a afirmação de que a verdade é apreensível (como julgam os
dogmáticos) e a de que ela é inapreensível (como julgam os acadêmicos). Eis por­
que Diógenes de Laércio declara que os pirrônicos não estabeleciam dogmas,
eram skeptikói e zêtêtikói.
Sképsis provém de um verbo, sképtomai, que significa olhar atentamente,
considerar, observar, examinar detidamente, meditar, inquirir, interrogar, refletir
e preocupar-se. Zêtêsis provém do verbo zetéuô,
que significa buscar ou procurar
para encontrar, procurar conhecer, procurar para obter, examinar, investigar. As­
sim, de acordo com os testemunhos recolhidos por Diógenes de Laércio, os segui­
dores de Pirro eram inquiridores, interrogadores, observadores meticulosos,
examinadores e meditativos - céticos - e buscadores ou investigadores perenes
que tudo examinavam - zetéticos. Enquanto a tradição filosófica (ou os dogmá­
ticos) indagava sob que condições o conhecimento é possível, o cético indaga
porque ele não é possível. A esse respeito, escreve o helenista Roberto Bolzani:


Permanecer na zétesis filosófica -considerar indecidida a questão da apreensão ou
não apreensão da verdade -significa justamente a abstenção de qualquer pronun­
ciamento tético sobre o mundo e sobre os discursos que o dogmatismo filosofica­
mente desenvolve na tentativa de explicá-lo. Eis o que a suspensão cética do juízo
(époché) propõe (Bolzani, 2003, p. 13).

Nessas condições, parece inadequado falar em doutrina cética ou em pirro-

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