nismo. Aliás, de acordo com Diógenes de Laércio, os próprios céticos recusavam
ser chamados de pirrônicos:Te odósio (cético) recusa o nome de pirrônica para a escola cética dizendo que, visto
que o movimento do pensamento de outrem nos é inapreensível, não poderemos
conhecer qual era o pensamento de Pirro. Consequentemente, não podem ser cha
mados pirrônicos. Além disso, não fo i Pirro quem encontrou a atitude cética e ele
não propôs nenhum dogma. Pode-se muito bem chamar pirrônico todo homem
que tenha vivido como Pirro (Diógenes de Laércio, IX, 70, t. 11, 179).Pirro não descobriu a atitude cética, pois essa atitude - observação meticu
losa e meditação interrogativa - existe em todos os homens. Diógenes leva isso
tão a sério que enumera um grande número de céticos, começando por Homero,
passando por Zenão de Eleia, Heráclito e Empédocles e chega aos poetas Arquí
loco e Eurípedes. Além disso, como "o pensamento de outrem nos é inapreensí
vel", não dispomos de meios para observar o interior de outrem. Ser cético, por
tanto, é assumir uma atitude e não uma doutrina. É pirrônico aquele que vive à
maneira de Pirro e não invoca a doutrina de um mestre a ser seguido. Por conse
guinte, não pode haver um ensinamento ou uma transmissão doutrinaI, pois não
há uma matéria para ensinar, um mestre que ensine e um discípulo que aprenda.
Eis porque, ao aceitar que se fale em escola cética, Sexto Empírico prefere empre
gar a expressão agogê skeptiké a fim de indicar que se trata de uma conduta e de
uma atitude, de uma direção de vida ou de uma via rumo à sabedoria, entendida
como ataraxía, tranquilidade ou serenidade de espírito.
É interessante observar que a pergunta sobre uma doutrina e uma escola
céticas não aparece apenas no início do ceticismo - quando se indaga se certos
filósofos são pirrônicos -, mas prossegue até seu término, como podemos com
provar pelos títulos dos últimos capítulos dos Esboços pirrônicos de Sexto Empírico.
Pelo relato de Diógenes de Laércio, seríamos levados a pensar que ser pirrônico,
não sendo a adoção de uma doutrina, há de ser a de uma arte de viver. Sexto Em
pírico nos dissuade dessa suposição. Assim, o capítulo 27 se intitula "Se a arte de
viver pode ser ensinada"; o capítulo 28, "Se se pode ensinar alguma coisa"; o capí
tulo 29, "Se há um mestre e um discípulo"; e o capítulo 30, "Se há um modo de
instrução".
A resposta à pergunta sobre a possibilidade de ensinar a arte de viver é nega-
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