tiva. Sexto começa declarando que a pergunta decorre do fato de que, visto tratar
-se de uma arte, não pode ser algo existente nos homens por natureza e sim adqui
rido por ensino e instrução ou por experiência. O capítulo 27 conclui que não
pode ser adquirida por ensino e instrução porque não há matéria a ser ensinada,
nem mestre, nem discípulo -"portanto, o ensino não existe". O capítulo 28, ope
rando com um conjunto de distinções fe itas no correr da obra, particularmente
com o sentido de "ser" ou "existir", explica porque não pode haver matéria a ser
ensinada; o 29, operando com a distinção e a relação entre o "hábil" e o "inábil",
explica porque não pode haver mestre nem discípulo; no capítulo 30, explicando
que o que é evidente não se ensina, mas apenas se mostra, e que o que é obscuro
teria que ser ensinado por meio do discurso, mas este é uma convenção e sua sig
nificação instável segundo os tempos e os lugares, Sexto conclui que além de não
haver método de instrução, também não existe o objeto do ensinamento - a arte
de viver - e, portanto, excluir o ensino não significa afirmar que tal arte seria
adquirida por experiência, pois não há o que adquirir. Assim, a pergunta sobre o
ensinamento da arte de viver conduz à conclusão de que tal arte sequer existe e,
portanto, a questão é desprovida de sentido.
Vemos aí a radicalidade cética e zetética: a busca contínua, a investigação
perene, a interrogação incessante, que levam à posição de uma questão e ao seu
esvaziamento subsequente. No entanto, poder-se-ia perguntar qual a validade ou
o sentido do exercício de colocar uma questão e argumentar para mostrar que ela
é desprovida de significado. Responde Sexto:
o cético, porque ama os homens (philántropos), quer curar pelo raciocínio a presun
ção dos dogmáticos e sua precipitação de julgamento (boúletai). Assim como os
médicos que cuidam das doenças do corpo possuem remédios diferentes segundo a
fo rça do mal, aplicando remédios severos aos que estão violentamente afetados e
remédios leves aos levemente afetados, assim também o cético propõe razões (ló
gous) de fo rça diferente: serve-se daquelas pesadas que podem refutar vigorosamen
te a presunção de que sofrem os dogmáticos, no caso daqueles que estão violenta
mente afetados pela precipitação no julgamento; usa os mais leves para aqueles que
sofrem de um mal superficial, fá cil de curar e que podem ser refutados por métodos
mais suaves de persuasão. Consequentemente, o filósofo cético não hesita em pro
por ora argumentos que têm peso por seu valor probante, ora argumentos proposi-51