Todavia, como Pirro, apreciava a solidão, caminhando sozinho pelos jardins, e era
indiferente à fama granjeada por suas obras.
Os historiadores da filosofia consideram Tímon desprovido de vigor especu
lativo. Sua importância encontra-se, por um lado, no fato de ter colocado por es
crito o pensamento de Pirro, permitindo que a posteridade o conhecesse e, por
outro, de haver medido Pirro com outros filósofos, confrontando-os e demarcan
do a posição cética.É sobretudo por seu espírito vivo e mordaz, por sua malevolência, que Tímon tor
nou-se célebre. Exercia sua verve zombeteira sobre todos os assuntos e às expensas
de toda gente; não poupava nem mesmo sua própria pessoa: como era vesgo, apeli
dou-se de Ciclope, caçoando de sua deficiência. Mas o alvo preferencial de seus sar
casmos eram os filósofos (Brochard, 19 69, pp. 80-1).Dançarino e beberrão nas horas vagas, parecia-se pouco com seu mestre e deveu o
renome à ironia fustigante contra os filósofos, vivos e mortos, cobrindo-os de sarcas
mo (Cossutta, 1994, p. 58).Os escritos de Tímon
Tímon compôs muitas obras: poemas épicos, tragédias, sátiras, comédias e
livros em prosa, entre os quais A Piton (que narra seu encontro com Pirro, quando
partia para Delfos, e sua adesão ao pirronismo), um tratado Sobre as sensações e
uma polêmica intitulada Contra os fisicos. De seus escritos, restaram fragmentos
de dois poemas, Imagens (Indalmoi, que alguns intitulam Das aparências) e Silles3
(poemas satíricos contra os filósofos dogmáticos, parodiando Homero). Das Ima
gens restaram treze versos, conservados por Diógenes de Laércio; dos Silles, por
volta de cento e cinquenta.
Os versos das Imagens, de que citamos alguns acima, dedicam-se à apresenta
ção de Pirro como fundador do ceticismo e mestre. Ao que parece, os Silles com
preendiam três livros de injúria aos filósofos: o primeiro era uma exposição contí
nua; o segundo e o terceiro, um diálogo em que Xenófanes de Colofon respondia
a perguntas de Tímon, passando em revista os filósofos antigos e contemporâneos.
De acordo com Diógenes de Laércio, a obra começava com o verso: "Vinde todos,
agora, todos vós, sofistas importunos!".