Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
Do fundo das trevas espessas, tu que foste o primeiro que soubeste fazer brilhar uma
luz tão esplêndida e nos iluminar sobre os verdadeiros bens da vida, sigo teus passos,
ó glória da gente grega, e ho je ponho o pé sobre a pegada deixada por ti [ ... ]. Tu, pai,
descobriste a verdade [ ... ] Ó mestre glorioso [ ... ] nós nos alimentamos de tua áurea
palavra. Tão logo tua razão começa a vociferar sobre a natureza das coisas, nascida
em tua divina mente, de imediato se dissipam os terrores do ânimo.

Tal grandeza de engenho e inteligência não pode ser de alguém "nascido da
estirpe dos mortais". Por isso, na abertura do Livro v, Lucrécio conclui:

De fato, foi um deus aquele que primeiro descobriu a regra de vida que agora se
chama sabedoria; aquele que pela arte de pensamento, libertando nossa vida de tão
grandes tempestades e de tão profundas trevas, soube assentá-la num lugar tão tran­
quilo e em luz tão clara. [ ... ] É caminhando nas suas pegadas que vou buscando e
expondo por palavras as razões das coisas.

Para Lucrécio, a física e a ética de Epicuro são inseparáveis, pois seu sistema
da natureza, ao oferecer "as razões das coisas", ensina "os verdadeiros bens da
vida" porque liberta os homens das tempestades e trevas da ignorância, da supers­
tição e do medo. Por isso sua "luz tão clara" dissipa "os terrores do ânimo" e as­
senta nossa vida "num lugar tranquilo". Ou, no comentário de Emile Bréhier:


A tranquilidade da alma e a luz do espírito: dois traços inseparáveis, cuja íntima
união faz a originalidade do epicurismo. A tranquilidade da alma não pode ser alcan­
çada senão pela teoria geral do universo que é o atomismo e que, como tal, faz desa­
parecer todas as causas de temor e perturbação (Bréhier, 1978, p. 71).

Também Diógenes de Laércio, depois de apresentar os testemunhos maledicen­

tes, declara que "são coisa de gente louca" e os desmente com outros, elogiosos:


Temos testemunhos abundantes de sua incrível justiça com relação a todos: sua pá­
tria o honrou com vinte estátuas de bronze, todos os seus amigos, tão numerosos
que cidades inteiras não seriam suficientes para abrigá-los, e seus discípulos, que se
mantiveram fiéis à sua doutrina (com exceção de Metródoro de Estratônia, que fo i
procurar Carnéades, porque sem dúvida não podia suportar a bondade de Epicuro),

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