Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

nossos sentidos. Além disso, a sensação pode ensinar sobre a evidência e a verda­

de, mas não sobre o erro e o falso nem nos pode mostrar, por exemplo, qual a

causa das opiniões. Por isso Epicuro apresenta um segundo critério do conheci­

mento, a antecipação ou pré-noção (prolép sis).

Conforme Diógenes de Laércio, os epicuristas

entendem por prolépsis uma espécie de capacidade de apreender (katálepsia*), de

opinião correta (dóxa orthé), de noção (eunóia*), de concepção universal (chatoliché

noesis*) que se encontra em nós, isto é, como lembrança do que frequentemente se

apresentou do exterior. Por exemplo: "isto é um homem". Tão logo a palavra ''ho­

mem" é pronunciada, imediatamente se pensa, em decorrência da pré-noção, em

sua imagem, que provém de sensações anteriores (Diógenes de Laércio, x, 33).

A prolépsis é uma imagem mental que se forma a partir da repetição de sen­

sações semelhantes e de sua retenção na memória, implantando-se em nossa alma

naturalmente, sem intervenção do raciocínio. É uma noção geral que pode ser

chamada à mente a qualquer momento. O texto de Diógenes prossegue:

Não buscaríamos o que está em questão se disso não tivéssemos um conhecimento

prévio. Quando se pergunta, por exemplo: "aquilo que está lá longe é um cavalo ou

um boi?", [para fo rmular a pergunta] é preciso ter um conhecimento prévio da fo r­

ma do cavalo e do boi. Não poderíamos mesmo sequer nomear uma coisa se não

conhecêssemos no modo da antecipação sua imagem esquemática. As pré-noções

são, pois, evidentes e nossas opiniões dependem de alguma coisa evidente que as

precedeu (Diógenes de Laércio, x, 3 4).

As pré-noções são evidentes porque sua origem é a sensação. Retidas na me­
mória como imagens das formas e dos caracteres das coisas, elas procedem da
experiência e sua função é antecipar novas experiências que seguem à sua aquisi­
ção. Em outras palavras, antecipam o reconhecimento das coisas quando se mani­
festam na sensação. Nelas se realizam as conexões que unificam numa imagem a
pluralidade fragmentada e pontual das sensações, formando uma noção geral ou
um esquema que sintetiza as sensações e que perdura no tempo, permitindo reco­
nhecer uma coisa percebida cuja forma é conhecida.
As pré-noções são condição da linguagem (pelo menos em seu aspecto deno-

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