Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
É necessário que a noção primeira que corresponde a cada vocábulo esteja bem à
vista e que, além disso, ela não careça de nenhuma demonstração, se precisamen­
te devemos ter a que referir aquilo que é para nós objeto de investigação ou de
embaraço.

o sábio deve, portanto, partir do sentido fundamental dos vocábulos, evi­
tando sentidos derivados e metafóricos (que já são opinião) bem como os senti­
dos técnicos, ficando com o sentido natural ou primeiro, isto é, anterior aos
usos que dele fizeram a sociedade e a cultura. Em suma, o ponto de partida é o
sentido originário das palavras enquanto pré-noções nascidas das sensações.
Sob essa perspectiva, a pré-noção é a noção primeira, que servirá de cânone ou
critério para determinar o caminho da investigação, o que pode e o que não
pode ser aceito, o que deve ser incluído ou excluído do objeto investigado. É
dessa maneira, por exemplo, que a noção primeira de Deus afirma que este é
"um ser vivo, imperecível e feliz" e dela se poderá inferir o que lhe convém e o
que não lhe convém, como, por exemplo, criar e governar o mundo, legislar e
julgar os homens, pois tais ações o fatigariam e perturbariam e ele deixaria de
ser feliz.


o papel que tem a sensação no tocante à experiência instantânea e pontual, a prolép­
sis tem para a experiência prolongada e acumulada: ela escreve a realidade do mundo
na alma do homem (Brunschwig, 1997, p. 492).

Diz Sexto Empírico que, "de acordo com Epicuro, não se pode investigar
nem meditar sem as pré-noções". Por isso, Jacques Brunschwig considera a posi­
ção da prolépsis como critério do conhecimento, como a resposta epicurista ao
problema deixado por Platão desde o Menon, qual seja, como partir em busca de
alguma coisa se já não a conhecermos suficientemente para reconhecê-la quando
por acaso deparamos com ela?
A solução de Epicuro se encontra na diferença entre a prolépsis enquanto ex­
periência acumulada e uma experiência nova trazida pela sensação. A pré-noção
já nos ensinou o que são um cavalo e um boi; uma nova experiência nos leva a
indagar se o que vemos ao longe é um cavalo ou um boi; a investigação termina
quando constatamos que o animal atualmente presente na sensação possui as ca­
racterísticas de uma ou de outra pré-noção. Assim, a tarefa da sensação presente é


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