confirmar ou refutar uma conjetura (aquilo é um cavalo ou é um boi?) a que so
mos levados pelas pré-noções (isso é um cavalo; isso não é um boi).
Todavia, essa solução, que é óbvia para a vida cotidiana, não parece dar con
ta das questões filosóficas de fisica, astronomia, cosmologia ou teologia, isto é, do
invisível (ádela*). Não há como chegar perto das estrelas nem ver por dentro uma
pedra. Porém, mais importante, se se pretende liberar os homens das falsas opi
niões que os atormentam, amedrontam e escravizam, é preciso encontrar um
caminho para a passagem do visível ao invisível.
De acordo com Sexto Empírico, essa passagem se realiza porque, além da
confirmação e da refutação, Epicuro introduz a ideia de não refutação:A não refutação é o vínculo que prende ao que aparece com evidência uma opinião
sobre uma coisa invisível. Por exemplo, Epicuro diz que o vácuo, coisa invisível,
existe, e ele o prova pela evidência do movimento: com efeito, se não houver vazio
também não haverá movimento, pois um corpo em movimento não terá espaço
para deslocar-se se tudo fo r pleno. Assim, a evidência que é o movimento não refuta
a coisa invisível suposta. [ ... ] A confirmação e a não refutação são critérios de uma
coisa verdadeira, enquanto a não confirmação e a refutação são os critérios do falso.
A evidência é, pois, o princípio e o fu ndamento de tudo (Sexto Empírico, Adversus
mathematicus, VII).Muitos intérpretes consideram ser este o núcleo da epistemologia de Epicu
ro, pois o filósofo considera que, graças a inferências realizadas a partir de signos
evidentes trazidos pelas sensações e pelos critérios de confirmação e não refuta
ção, pode-se chegar a verdades não evidentes do ponto de vista sensível. No caso
dos objetos e fatos de que podemos ter experiência, a confirmação e a refutação
realizam um confronto entre uma opinião ou uma hipótese e a experiência; assim,
uma opinião é verdadeira quando confirmada e não refutada pela experiência;
falsa, no caso contrário, quando não é confirmada e é refutada pela experiên
cia. No caso de ob jetos e fatos não manifestos, de que não podemos ter expe
riência direta, o raciocínio propõe, a partir dos dados da experiência, uma hipóte
se que lhe aparece concordante com as coisas manifestas, mas que não pode ser
confirmada nem refutada e sua não refutação a torna uma verdade aceitável para
o pensamento. Mas não só isso. Visto que a evidência "é o princípio e o funda
mento de tudo", as hipóteses devem ter como ponto de partida evidências sensí-
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